Maria José Rocha Lima*
Tomei de empréstimo do artigo/ensaio de Felipe Moura Brasil, da Revista Crusoé, para dar título a este artigo de opinião, a conclusão simplesmente fantástica de São Tomás de Aquino sobre a ira dos invejosos que sobem e se mantêm no topo a qualquer custo, contra os que buscam caminhos prudentes e honestos na vida.
Na verdade, esses caminhos que mostram o mérito, o talento, os esforços e resultados do trabalho são cada vez mais raros, seja na vida empresarial, acadêmica, política e até religiosa. Aliás, como disse ao meu caro amigo Ricardo Coelho, isto é coisa cada vez mais rara, mesmo, e na política pode ocorrer que pessoas do bem se elejam, sem recorrer aos artifícios condenáveis, apenas como um fenômeno, se é que ainda existe.
Naquele artigo/ensaio do Felipe Moura, intitulado a Reforma Moral, ele citou o filósofo o teólogo francês Antonin Sertillanges (1863-1948), um dos mais importantes estudiosos da obra do frade católico São Tomás de Aquino (1225-1274), destacando que um dos seus ensinamentos mais importantes é que as pessoas que queiram persistir no caminho do bem e “cumprirem a missão do talento devem saber que sofrerão inúmeras provações, especialmente a dos ataques alheios”.
Na obra A vida intelectual, publicada em 1920, São Tomás adverte: “Se em algum grau vierem a ser alguém, fiquem no aguardo de provações seletas e preparem-se para experimentá-las em seus vários sabores: a provação do ideal, que lhes parece estar cada vez mais distante à medida que apertam o passo; a provação dos estúpidos, que não entendem nada das palavras que vocês lhes dizem e ficam escandalizados com elas; a provação dos bons que se deixam abalar, passam a suspeitar de vocês e os largam; a provação dos medíocres, que são a grande massa, a quem vocês incomodam com a sua tácita afirmação de um mundo superior”.
Quando São Tomás de Aquino era atacado, se esforçava por fortalecer a sua posição filosófica e em seguida se calava. Tanto que foi apelidado de “boi mudo da Sicília”. Ele se recolhia por um tempo. Essa estratégia é usada nos dias atuais e a designamos como “mergulho” ou “desaparecimento momentâneo da mídia”, para evitar desgastes.
Segundo Antonin Sertillanges, citado por Moura Brasil:“Todos os que puseram em prática esse método de Santo Tomás sempre subiram alto; da força que se investia para derrubá-los fizeram uma impulsão vitoriosa; com as pedras que jogavam neles, eles construíram sua morada. O Santo recomendava a retirada de cena para sair primeiramente ileso, isento de enfraquecimentos e de rancores, depois engrandecido e aprimorado pela provação. A força espiritual genuína exalta-se na perseguição”.
O negócio é realizar o trabalho intelectual ou político com disposição e seriedade, mas com discrição, agindo algumas vezes com reserva, sem chamar demasiadamente a atenção dos invejosos, eis a grande lição do Santo Tomás de Aquino, porque a “inveja é o imposto de renda da glória”.
*Maria José Rocha Lima é mestre e doutoranda em educação. Foi deputada de 1991 a 1999.É presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira