
Por Miguel Lucena
A política brasileira insiste em se movimentar dentro de uma fronteira estreita: direita de um lado, esquerda do outro. Essa dicotomia, cômoda para os radicais, acaba por excluir uma visão mais ampla e necessária — a do democrata humanista, que não enxerga a política como uma arena de gladiadores ideológicos, mas como espaço de construção do bem comum.
Nesse cenário de radicalização, crescem discursos raivosos e insensíveis contra a assistência social. Pregar a mão estendida aos pobres passou a ser visto como ameaça ou como desperdício, quando, na verdade, é condição mínima para uma sociedade decente. A classe média, sufocada por impostos e pela carestia, é convencida a apontar o dedo para baixo, responsabilizando os mais vulneráveis por seus apertos, enquanto deixa de mirar para cima.
Os verdadeiros beneficiários do Estado não são os pobres que recebem um auxílio para comer, mas os muito ricos, que multiplicam fortunas em conluio com esquemas criminosos, drenando cofres públicos. É só observar: quem assaltou os descontos do INSS não foi o povo da periferia. Se algum pobre apareceu no meio, foi como laranja ou, mais frequentemente, como vítima da engrenagem.
O humanismo político — aquele que coloca o ser humano acima de rótulos ideológicos — precisa recuperar espaço. Defender os necessitados não é pauta exclusiva de esquerda nem traição de direita; é obrigação de qualquer sociedade que não queira se perder em sua própria barbárie.