Deputados Ricardo Salles e Nikolas Ferreira têm feito críticas indiretas a Jair Bolsonaro por alianças do PL com aval do ex-presidente
Breno Esaki/Metrópoles
Os deputados federais bolsonaristas Ricardo Salles (Novo-SP) e Nikolas Ferreira (PL-MG) deflagraram, nos últimos dias, uma espécie de “guerra fria” com críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Ambos criticaram o ex-mandatário indiretamente por acordos políticos selados pelo PL com partidos do Centrão, com aval de Bolsonaro, como na eleição para a presidência da Câmara dos Deputados.
Como vem noticiando a coluna, o PL declarou apoio à candidatura do deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) à sucessão de Arthur Lira (PP-AL), mesmo candidato que será apoiado pelo PT de Lula.
Na noite da terça-feira (5/11), por exemplo, Nikolas subiu na tribuna da Câmara para criticar a direita por estar “perdendo a essência”. Ele citou o caso da disputa para o comando da Casa, em fevereiro de 2025.
“Quando se pega a eleição à Presidência desta Casa, vejo como uma imoralidade gigantesca colocar em jogo a vida das pessoas, a anistia do dia 8, enfim, é uma imoralidade gigantesca já se fazer isso. Não tenho nada contra os candidatos. Inclusive, já conversei com vários deles, respeitosamente. O que quero dizer, direita, é que as pessoas na rua não chegam até nós para dizer: ‘Vá lá, conquiste uma vaga em tal lugar. Vá lá, conquiste uma cadeira no lugar tal’. Não, o que eu escuto é: ‘Estou orando por você. Não desista’”, afirmou.
No discurso, Nikolas avaliou que a direita está perdendo a essência, o “que vai fazer com que as pessoas também percam a essência delas, porque nós somos o reflexo do que as pessoas sentem”.
“Alguns querem argumentar: ‘Ah, mas Bolsonaro estava aqui sozinho, e, por isso, ele era truculento’. Mas ele, de forma truculenta e sozinho, chegou à Presidência da República. Hoje, estamos vivendo basicamente da caridade dos nossos inimigos. Isso não é algo em que acredito. E digo isso porque sei que você deputado de direita também não acredita nisso. Você tem uma essência dentro de você que diz: ‘Caramba, como deveria ser ir para cima sempre? Como deveria ser realmente lutar e não arredar o pé?’”, afirmou o parlamentar
O deputado mineiro afirmou ainda que “coalizão de verdade” é necessária em alguns momentos, mesmo que não dê resultados, e que é preciso encarar alguns momentos na Câmara “com coragem”.
“O que eu não quero é me arrepender de ter ouvido a minha essência dentro de mim, dos votos da minha família, dos meus amigos, das pessoas que me param na rua, porque simplesmente alguém me disse que é preciso fazer uma coalizão. Coalizão, de verdade, em alguns momentos, é necessária. Precisamos, sim, encarar diversos momentos nesta Casa com coragem, porque acredito que nós vamos semear durante muito tempo para que alguns colham. E, mesmo que não dê resultados, a vida não é feita somente de resultados”, declarou.
Salles usa Trump para alfinetar Bolsonaro
Salles, por sua vez, usou a vitória de Donald Trump nas eleições presidencias nos Estados Unidos para alfinetar Jair Bolsonaro sem mencionar o ex-mandatário.
“Trump é maior dos intergaláticos. É o intergalático-mor! Não se curvou, não negociou, não cedeu, não retrocedeu! Foi lá e venceu!”, escreveu o ex-ministro do Meio Ambiente no X.
A fala, no entanto, foi rebatida por seguidores de Salles, que lembraram que Trump fez aliança com políticos menos conservadores, como o governador da Flórida, Ron DeSantis, e a família Kennedy.
Bolsonaro reage a críticas
Embora tanto Salles quanto Nikolas não tenham citado expressamente Bolsonaro nas críticas, o ex-presidente viu as declarações dos aliados como uma crítica a ele. E reagiu.
A reação de Bolsonaro veio em uma entrevista a um canal de youtube bolsonarista na quarta-feira (6/11), na qual criticou “intergalácticos” que não entendem certas alianças políticas que ele tem feito.
“Se a gente fizer uma bancada fantástica de deputados e senadores, a gente bota o Brasil no eixo. E quem tem que ditar para onde o Brasil primeiro é o povo, depois o parlamento e depois o poder Executivo. Eu reconheço o lugar do Executivo. Temos como buscar alternativas. Mas não vai ser de uma hora para outra. Isso é fácil para os intergaláticos. É tudo: ‘ah, não fez isso, não fez aquilo, não voto mais, estou fora, vamos criar um grupinho aqui. Vamos ver nossas tradições, nossas origens’”, afirmou Bolsonaro.
O ex-mandatário afirmou que o tecido político no Brasil está “bastante deteriorado”, mas ponderou que a recuperação está “vindo aos poucos”. Segundo ele, há gente boa em outros partidos.
“Tem gente boa em outros partidos. Dificil achar dentro do PT, PCdoB, PSol. Quem tinha já saiu fora. Tem um deputado aí, não vou falar o nome dele, que foi do PCdoB, foi o relator do codigo florestal em 2012 e saiu do PCdoB. Não vamos atirar nele por causa disso. Um cara fantástico, em todos os aspectos, que viajou agora para Amazônia, deu um recado”, afirmou, em referência ao ex-deputado Aldo Rebelo, atualmente filiado ao MDB.
Em uma indireta a Nikolas, que é mineiro, Bolsonaro elencou realizações de seu governo em Minas Gerais, como a extração de lítio no Vale do Jequitinhonha e o metrô de Belo Horizonte.
“Nós, por exemplo, botamos para frente a extração de lítio no Vale do Jequitinhonha. Não foi ninguém do estado de Minas Gerais. Fomos nós que fizemos lá atrás com ministro (Adolfo) Sachsida, das Minas e Energias. Ninguém tinha a ideia de fazer aquilo ali. Nós começamos ali o trabalho do metrô de BH. Não é metrô lá na capital da Venezuela, Caracas. Não é lá, é aqui. Nós fizemos isso. E, de vez em quando, temos autoridade do Estado: ah, nunca fez nada aqui”, disparou o ex-presidente.
Bolsonaro pediu ainda “paciência” aos aliados na “luta contra o sistema”. De acordo com o ex-chefe do Palácio do Planalto, apenas uma “minoria” não consegue entender o que está acontecendo,
“É difícil lutar contra o sistema? É. Agora, a gente pede paciência aos parlamentares. A grande maioria entende o que está acontecendo. Eu falo do meu partido. Uma minoria que não consegue entender o que está acontecendo. Não dá para lutar hoje em dia dessa forma. Não dá. Cada segundo daquelas pessoas que estão presas injustamente na Papuda ou outro lugar qualquer pelo 8 de Janeiro é uma eternidade”, disse.
Fonte: Metrópoles