Ilustração
Miguel Lucena
No final da manhã de um sábado, em 1992, Cipriano Petê curava a ressaca no Largo da Saúde, em Salvador, e contava sobre uma moça bonita que conheceu no Forró dos Amigos de Chorrochó, ocorrido na noite anterior.
É aprumada! Bonita, cheirosa e meiga, pena que não bebe!
Por princípio e para evitar dissabores, Cipriano não namorava com mulher abstêmia de bebida alcoólica.
É aperreio certo. Toda hora um moído, até terminar em briga e separação – ensinava.
Só vim dar razão a Cipriano mais de 20 anos depois, analisando casos de violência doméstica.
A maioria das brigas é por desentendimentos relacionados a vícios, principalmente a bebida alcoólica.
Entendo hoje que outras questões precisam ser observadas antes do início de um relacionamento, como princípios e gostos. Por exemplo, uma pessoa muito devota talvez não dê certo com um ateu. Quem odeia cigarro não se acertará com um fumante, e quem é vegano não se dará bem com um amante de vaquejada ou matador de boi. E, em tempos de intolerância política, é bem provável que um petista não consiga viver um dia com um bolsonarista. Até nisso o Centrão leva vantagem, porque pode amar dos dois lados sem cair na Lei Maria da Penha.
Notadamente as escolhas têm, mesmo que inconsciente, a intenção de não dar certo. Paradoxal? Sim. Mas o certo é que ser humano é transparente demais. Todos se entregam de bandeja, mas a maioria racionaliza, justifica tipo: estava nervoso (a) e acaba caindo numa esparrela. Isso é cegueira. Quando algo estranho acontece já nos primeiros encontros, o certo é pegar o beco, dar no pé, pois só piora.