Maria José Rocha Lima[1]
O título deste artigo foi reproduzido pelo amigo Deusimar Pires, ex- prefeito de Aparecida, na Paraíba, premiado pela execução de boas práticas educacionais – um político raro. Ele coroou as minhas reflexões, nestes dias, sobre a triste história da (des)educação do povo brasileiro. Acabo de publicar estudos e pesquisas realizados durante a produção da tese de doutorado sobre Partidos Políticos e a Implantação do Piso Salarial do Magistério Baiano: o discurso e a prática. Uma tragédia: mais de 60% dos municípios baianos nunca implantaram integralmente a Lei 11.738/2008 ( Lei do Piso).
O Piso Salarial do Magistério foi aprovado em 1827, pelo imperador Dom Pedro II, mas nunca implantado. Concluí sobre a inalcançável valorização do professor, que me inspirou a idealização da Alegoria do Pau de Sebo, muito conhecido pelos brasileiros.
O delegado Miguel Lucena, poeta, cordelista e nordestino, descreveu muito bem: “ Aquele mastro liso e escorregadio com um prêmio no topo, muitas vezes falso.” E valendo-se do grande mestre da cultura brasileira prestigiou a descrição da cocanha: “A vida é um pau de sebo com uma nota falsa na ponta”, dizia o mestre potiguar Câmara Cascudo, historiador, sociólogo, musicólogo, antropólogo, etnógrafo, folclorista, poeta, cronista, professor, advogado e jornalista. Se tivesse se dedicado exclusivamente ao Magistério, ele teria acrescido a palavra professor depois de vida.
O Piso Salarial do Magistério e Fundos de Financiamento para a Educação nasceram na Bahia, sob a égide de um ministro do Império, o baiano Rodolfo Dantas, que nomeou o também baiano Rui Barbosa para relator.
Em 1883, o jurista baiano, polímata, deputado e senador Rui Barbosa, no seu célebre Parecer sobre o Ensino Primário, com sua grandiosidade em talento, cultura e peculiar elegância, que o fez alcançar uma contundência incomum, para denunciar os discursos das autoridades brasileiras sobre educação, contrastantes com as suas práticas, disse: “Não é possível conceber mais triste sintoma do vício crônico e constitucional, da miséria intelectual e material da instrução pública neste país”.
Rui Barbosa ressalta os contrastes dos discursos dos políticos brasileiros com as suas práticas: “Não é possível conceber mais triste sintoma do vício crônico e constitucional, da miséria intelectual e material da instrução pública neste país. Se esse otimismo, exprimido pelas altas autoridades da administração educacional, no círculo de sua especialidade, não fosse apenas o mais infeliz dos indícios da fase diatésica de um mal que chegou ao extremo da sua invasão, paralisando nos centros diretores, forças de reação e a própria consciência da enfermidade” (Barbosa, 1947 [1883]).
Em 1881, o abolicionista Joaquim Nabuco expressou a sua desolação com a política brasileira em carta endereçada ao amigo Sancho de Barros Pimentel: “Decididamente não fui feito para o que se chama entre nós de política. A palavra, a pena, as ideias são armas que de nada servem. O caráter, o escrúpulo, a independência, o patriotismo, tudo isso não vale nada, não tem curso entre os eleitores” (Nabuco, 2003, p. 10).
No Brasil, é impensável uma escola igual para todos. É o estado brasileiro que mantém os pobres em escola pobre, porque são pobres. Os políticos brasileiros, quase todos, se elegem com os votos dos grotões incultos e pobres, trocando favores, distribuindo cestas básicas e promessas de migalhas do poder. Esses políticos se alimentam da ignorância e do cativeiro. Para eles, Independência é morte!
Maria José Rocha Lima é mestre em educação pela Universidade Federal da Bahia. Doutoranda em Educação e Doutora em Psicanálise. Presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira. Soroptimist International – Coordenadora de Expansão para a Região Brasil e coordenadora de programas do SI Brasília Sudoeste.