Falta dinheiro para tudo no serviço público, especialmente para ações preventivas, mas basta acontecer uma tragédia para as autoridades “constituídas” se desmancharem em prantos e se desdobrarem em público, achando recursos onde não havia, como se a emergência, após a casa arrombada pelo ladrão, obrasse milagres.
Foi assim com a Lei dos Crimes Hediondos, após o assassinato de uma atriz por um colega de trabalho e sua mulher enciumada. Está sendo assim agora, com o incêndio que consumiu o Museu Nacional e todo o seu acervo.
Não havia recursos para manutenção do museu. Até a Universidade Federal do Rio de Janeiro, dirigida por forças que se dizem amantes da cultura, reduziu de R$ 600 mil para R$ 300 mil os repasses ao bicentenário centro de cultura.
O Ministério da Cultura andou a passos de tartaruga para concluir processo de destinação de verbas para o museu, em junho deste ano, e continuou em câmera lenta para liberar o que foi aprovado, até que vieram as chamas e engoliram tudo.
De repente, o presidente Michel Temer enfiou a mão na botija e arranjou R$ 15 milhões para recuperar o que foi destruído. Para impedir a destruição, não havia um centavo.
Predomina, no Estado brasileiro, a cultura da reação. Não há policiamento na rua, mas basta ocorrer um crime grave para o governo mobilizar um aparato policial para cuidar da cena do delito, como se aquele efetivo estivesse ali para impedir o descanso do morto.
*Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor