Miguel Lucena
Um silêncio “ensurdecedor” caiu sobre a Bahia após a deflagração da Operação Faroeste, da Polícia Federal, que desnudou um esquema putrefato de corrupção na cúpula do Poder Judiciário Estadual envolvendo venda de decisões e grilagens de 360 mil hectares de terras no Oeste baiano.
Somente o enigmático Valdísio Fernandes, com seu sorriso irônico de quem sabe com quem está lidando, poderá explicar tanta mudez em terra de gente tão falante e de uma esquerda do pescoço grosso, com um senso de autoridade moral acima dos normais seres viventes.
Na Bahia, calaram-se todos. O centro e o centro-direita também tentam passar despercebidos, como menino cagado, como se não soubesse a razão de tanto mosquito em volta.
O silêncio revela o que, durante muitos anos, só se teve coragem de falar em particular, quando muito: os desembargadores pediam as bênçãos ao poderoso da vez.
Contam que Antônio Carlos Magalhães fazia dos desembargadores gato e sapato. Chegou a tirar com um tapa a peruca de um magistrado sertanejo. Havia um deles, oriundo da advocacia, que permitia investidas sobre a filha para galgar cada vez mais espaços nas altas rodas do poder.
Jaques Wagner, um sindicalista carioca que virou deputado federal, usou sua inteligência para decifrar o segredo por trás do poder de ACM. Fez amizade com o finado Luiz Eduardo, levando a tiracolo Geddel Vieira Lima, e foi estudando o modus operandi do Cabeça Branca. Andava no mesmo avião de Luiz, passava as noites com ele, os olhos aboticados de tanto energético, e desvendou o enigma.
Wagner se tornou governador e começou a mexer na cúpula do Judiciário, com o assessoramento do desembargador Cintra, oriundo do Ministério Público, até dominar tudo, sem que ninguém fizesse nada, enquanto Geddel inundava de dinheiro as eleições no interior da Bahia.
Como se vê, as máscaras de desembargadores e desembargadoras caem em meio aos tiroteios da Faroeste, e ambos os lados se calam porque, ensinam os baianos mais antigos, quem tem rabo de palha não toca fogo no rabo dos outros.
*Miguel Lucena é Delegado de Polícia no DF, jornalista e escritor.