Só nesta quinta-feira, 8, o Amazonas identificou seis novos casos. Duas mortes ocorridas nos Estados do Norte também estão sob investigação
Os sintomas vão desde a sensação de fraqueza, dor de cabeça e muscular, até a mudança na cor da urina. A Doença de Haff, que é principalmente identificada pelo escurecimento do líquido expelido pela uretra e relacionada ao consumo de peixes, foi diagnosticada em dezenas de moradores de pelo menos sete Estados brasileiros. As secretarias de Saúde da Bahia, Ceará, Pará e Amazonas monitoram 91 suspeitas. Só nesta quinta-feira, 8, o Amazonas identificou seis novos casos. Duas mortes ocorridas nos Estados do Norte também estão sob investigação.
Por meio de nota enviada à reportagem, o Ministério da Saúde informou que há o registro de 61 infectados no Amazonas e que aguarda a confirmação de outros 22 “compatíveis com a doença em outras seis unidades federadas”. A pasta não respondeu, contudo, quais outros Estados também estão em alerta e se há um protocolo sanitário padrão nas diferentes regiões.
Uma das mortes, também sob investigação, é a de um homem de 55 anos, na manhã da terça-feira, 7. Ele estava internado no Hospital Municipal de Santarém, no Pará. Genivaldo Cardoso Azevedo começou a sentir os primeiros sintomas horas depois de consumir peixe. O laudo médico apontou como causa da morte uma “infecção generalizada”.
A Secretaria de Saúde Pública do Pará (Sespa) afirmou que outros dois casos são investigados em Belém e Trairão. Amostras de sangue e urina foram encaminhadas para o Laboratório Central do Pará (Lacen). A pasta disse ainda que os municípios estão orientados a aumentar a atenção ao acondicionamento do pescado e reforçou que o paciente deve buscar atendimento ao primeiro sinal.
Dos 61 casos já notificados no Amazonas, desde o dia 21 de agosto, 37 estão em Itacoatiara, a 176 quilômetros de Manaus. No dia 28 do mesmo mês, uma mulher de 51 anos morreu na cidade. Os outros estão distribuídos nos municípios de Silves (4), Borba (4), Manaus (3), Parintins (4), Maués (4), Urucurituba (2), Caapiranga (1), Autazes (1) e Manacapuru (1). A Fundação de Vigilância Sanitária em Saúde (FVS) afirmou que seis pessoas estão internadas e o surto ainda é investigado. Segundo a pasta, uma força-tarefa com técnicos sanitários monitora os casos em Itacoatiara.
Causas sob investigação
Os sintomas foram notados pelo funcionário público baiano Ademir Clavel horas após um almoço de família, no fim de julho. Ele, a esposa e o filho sentiram dores na musculatura, cabeça e também fraqueza depois da ingestão de badejo. Vânia Clavel notou a urina marrom e chegou a perder os movimentos, conta Ademir ao Estadão.
“Senti dores muito mais leves, comparado à minha esposa, mas ficou tudo bem”, lembra ele, que buscou atendimento imediato na emergência do Hospital Cárdio Pulmonar, em Salvador. Ademir ficou um dia internado, enquanto a esposa permaneceu no hospital por dez dias. Passado o susto, ele contou à reportagem que a família continua acompanhada por médicos. “Mas está tudo bem e eu não acho que as pessoas devam entrar em pânico, ainda há estudos em andamento”.
Diretora de Vigilância Epidemiológica da Bahia, Eleuzina Falcão afirma que os primeiros casos foram registrados no Estado entre dezembro de 2016 e janeiro de 2017. Duas mortes foram confirmadas na época. Não houve registros em 2018 e 2019. Já em 2020 contabilizou 40 pacientes em sete municípios, incluindo Salvador. Em 2021, dos 18 casos notificados, 13 já foram confirmados na capital, em Alagoinhas, Simões Filho, Mata de São João e Maraú.
Eleuzina explica que a Haff é causada por uma toxina presente em alguns pescados e, uma das possibilidades, é de que, após se alimentar de uma alga tóxica, o peixe se infecte e passe a transmitir a doença. “É uma infecção de baixa efetividade, ou seja, que acomete poucas pessoas. Trata-se de um processo inflamatório que causa a ruptura da musculatura. O rim perde a capacidade de filtragem e, por isso, a urina escurece”, diz ela, que alerta para a necessidade de hidratação dos pacientes.
Os sintomas podem aparecer em até 24 horas após o consumo do peixe, acrescenta Eleuzina, que considera a situação controlada na Bahia. “As vigilâncias Epidemiológica, Sanitária e Ambiental acompanham as notificações nos municípios.” Segundo ela, o Lacen examina, junto a pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina, examinam amostras de pescados. Não há previsão para os primeiros resultados.
No Ceará, de acordo com a pasta da Saúde, nove suspeitas da doença de Haff, identificadas desde o dia 21 de agosto, aguardam confirmação laboratorial. Desses, quatro em homens e cinco mulheres, com idade média de 51 anos. Os principais sintomas identificados pelos pacientes são dores súbitas na região cervical 44,44%, nos membros inferiores e superiores (100%), urina escura (100%); dor nas articulações (44,44%) e febre (11,11%).
Procurados, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) não retornaram o contato até o fechamento desta reportagem.
Estadão Conteúdo