*Miguel Lucena
Em artigo recente, referi-me à catrevagem, pessoas sem pudores ou escrúpulos, guiadas por instintos primitivos e capazes de praticar as maiores indignidades.
Ao ler um texto de Karl Marx, em “O Dezoito Brumário de Luís Bonaparte”, de 1852, vejo essas pessoas na minha frente e tenho a impressão de que ele fala dos tempos atuais, sem livrar a pele de nenhum desses aproveitadores políticos que perambulam por todos os espectros partidários:
“Sob o pretexto de criar uma sociedade de beneficência, organizou-se o lumpemproletariado de Paris em seções secretas, cada uma delas dirigida por um agente bonapartista, ficando um general bonapartista na chefia de todas elas. Junto a roués arruinados, com duvidosos meios de vida e de duvidosa procedência, junto a descendentes degenerados e aventureiros da burguesia, vagabundos, licenciados de tropa, ex-presidiários, fugitivos da prisão, escroques, saltimbancos, delinquentes, batedores de carteira e pequenos ladrões, jogadores, alcaguetes, donos de bordéis, carregadores, escrevinhadores, tocadores de realejo, trapeiros, afiadores, caldeireiros, mendigos – em uma palavra, toda essa massa informe, difusa e errante que os franceses chamam la bohème: com esses elementos, tão afins a ele, formou Bonaparte a soleira da Sociedade 10 de Dezembro”.