* Nelson Valente
O noticiário brasileiro, depois de várias tragédias no trânsito, com “bestas feras” no
volante, alcoolizadas e sem habilitação, matam, mutilam suas vítimas e ficam impunes
diante de uma Lei boi/vaca e agora, tentam estabelecer o que se passa na cabeça dos
“assassinos de quatro rodas” para cometer essa monstruosidade.
Vamos continuar a ter mortes, porque nada vai mudar enquanto não houver a certeza de
que quem descumpre a lei vai preso e pagará caro pelos seus atos. Quem bebe e mata
assume a responsabilidade por seu ato. É crime doloso ou culposo? Não importa, porque
é crime.
Os números elevados, segundo especialistas, expõem a certeza de impunidade de quem
causa morte no trânsito, principalmente alcoolizado.
O exemplo está nas tragédias do fim de semana, casos que envolvem a mistura álcool e
direção ocorre porque encontram brechas na lei.
A legislação é fraca e benevolente com o autor dessa prática criminosa, pois permite
que a pessoa, mesmo com indícios evidentes de embriaguez, seja dispensada do teste de
alcoolemia. Dessa forma, o condutor até paga multa e responde a um processo
administrativo, mas fica livre do caráter criminal.
A lei tem de ser mais rígida, buscar mais efetividade e deixar de ser cheia dessas
garantias.
No Brasil, essas normas têm hierarquia que vai desde a Constituição Federal até o
simples comunicado. Assim, para o desempenho de suas funções, principalmente os
especialistas de educação necessitam no mínimo de conhecimentos do suporte da
estrutura do sistema.
Os legisladores em todos os níveis nem sempre são bastante felizes. As normas editadas
nem sempre são redigidas com a necessária clareza. Daí surgirem, não poucas vezes,
interpretações contraditórias sobre o mesmo texto. É bem verdade que as leis
propriamente ditas não são muito numerosas, mas os regulamentos, constituídos
principalmente de decretos, resoluções, portarias, são abundantes.
Sua função é dizer se é legal ou ilegal, conforme sejam ou não cumpridos os prazos e as
formalidades, fazendo com que a legislação passe a ter antes, um caráter punitivo do
que reforçador.
Por todos os canais abertos e fechados, pululam especialistas em tudo.
Psicólogos, Psiquiatras, Psicanalistas Religiosos, Políticos Policiais e os “analistas” de
tudo tentam emplacar uma “explicação dos assassinos de quatro rodas”. Enfim, uma
parafernália de “explicações”, profundamente inócuas, haja vista, o mundo é real e
jamais virtual, porque no mundo midiático, digital, instantâneo, a informação é cada vez
mais estilizada, pasteurizada, e os fatos recortados da realidade sem nexo, sem contexto,
sem passado, sem história, sem memória, numa destruição clara da temporalidade,
como se o mundo fosse um eterno videoclipe. Dessa forma, mais confunde do que
esclarece e mais deforma do que forma.
A Expressão do guarda de trânsito traduziu o horror de que estava impregnado:
“Perdemos um Iraque por ano em acidentes de trânsito”. De fato, o Brasil detém esse
lamentável recorde, morrem 50 mil pessoas por ano em acidentes de trânsito e 350 mil
ficam feridas. Há 1 milhão de acidentes anuais.
Em Tóquio, impressiona-se com a divulgação em paineis, colocados em pontos
estratégicos, informando o número de acidentes daquele dia (até o momento). São dados
incríveis, que serviam como alerta para os que gostam de correr em demasia.
Na capital de São Paulo, que tem a metade do número de automóveis de Tóquio, morre
diariamente o dobro de vítimas, o que demonstra claramente a irresponsabilidade com
que se dirige em nosso país. Corre-se demais, não se usa adequadamente o cinto de
segurança e há muito motorista que dirige depois de ter bebido em excesso. Os
resultados de toda essa ação indesculpável são facilmente previsíveis.
Assim, é defensável a iniciativa de estabelecer a campanha: Não dirigir quando beber.
Esse é o código. Para que essa consciência se crie, no seio da nossa população. Há
muita gente achando que já se ministra coisa demais, nas escolas brasileiras, mas sou
favorável a esses ensinamentos.
Os pais, mais uma vez, poderão ser educados por intermédio dos filhos. E aprenderão
também a não dar automóvel a quem ainda não tem maturidade para isso. Em muitos
casos, essa antecipação tem sido fatal.
A mentalidade do Sul do país é muito diferente: o empresário participa mais das
questões educacionais, a partir da compreensão de quem por aí se traça o caminho do
desenvolvimento.
O resultado é que existe uma forte participação comunitária em todos os projetos. As
autoridades estão conscientes dos “experts” para não dizer das bestas-feras do volante
que circulam pela cidade.
* Nelson Valente é professor universitário, jornalista e escritor