Ofertas foram feitas em julho, agosto e outubro do ano passado. Contrato com o Ministério da Saúde só foi firmado em janeiro deste ano
O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou, nesta quinta-feira (27/5), que o governo federal ignorou três ofertas para a venda e produção de vacinas contra Covid-19, a Coronavac, em julho, agosto e outubro do ano passado. No entanto, o contrato de aquisição de imunizantes só foi firmado com o Ministério da Saúde em 2021.
Covas disse, em depoimento à CPI da Covid, que a primeira oferta dirigida ao governo federal ocorreu em julho de 2020. Na ocasião, o Butantan sinalizou a entrega de 60 milhões de doses para o último trimestre do ano passado. Sem resposta, a entidade voltou a ofertar o mesmo montante de imunizantes em 18 de agosto.
Posteriormente, ainda sem resposta do Ministério da Saúde, a oferta foi ampliada, chegando na casa de 100 milhões de doses. O ofício foi enviado ao governo federal em 7 de outubro do ano passado.
O instituto enviou, em 2020, ao menos sete ofícios ao Ministério da Saúde, nos quais apresentava ofertas e informações para compra da vacina produzida em parceria com o laboratório chinês Sinovac.
Covas avalia que os negócios não encaminharam por discordâncias do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em adquirir o imunizante para o Programa Nacional de Imunização (PNI) contra o novo coronavírus.
“Tudo, aparentemente, estava indo muito bem, tanto que em 20 de outubro fui convidado pelo então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, para uma cerimônia no Ministério da Saúde, em que a vacina [Coronavac] seria anunciada como uma ‘Vacina do Brasil’, com a incorporação de 46 milhões de doses”, disse.
“A partir desse ponto, é notório que houve uma inflexão. E digo isso porque saímos de lá muito satisfeitos e achávamos que, de fato, teríamos resolvido parte desse problema. No outro dia, de manhã, as conversações adicionais não seguiram porque houve uma manifestação do presidente da República [Jair Bolsonaro] dizendo que a vacina não seria incorporada.”
Bolsonaro disse, em resposta a comentários de apoiadores em sua conta no Facebook, que o governo federal não compraria a vacina do laboratório chinês Sinovac Biotech, uma das que estavam em estágio mais avançado no mundo na ocasião.
Com essa declaração, Covas desmente o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que afirmou à CPI que as declarações do presidente não interferiram nas negociações.
“Foram três reuniões e outras reuniões com os técnicos, porque nós estávamos trabalhando intensamente na construção de um instrumento jurídico, inclusive atendendo a uma norma técnica que foi expedida pelo ministério para tentar fazer uma medida provisória, aos moldes do que foi feito com a Fiocruz. Então isso [a ordem de Bolsonaro], de fato, foi, naquele momento, um divisor de águas”, afirmou.
Aos senadores, Dimas Covas afirmou que o Brasil poderia ter começado sido o primeiro país a vacinar a população contra a Covid-19, ainda em dezembro do ano passado.
Dimas Covas é o décimo depoente do colegiado. Antes dele, a comissão parlamentar ouviu a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro.
Os senadores ouviram os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich e Eduardo Pazuello, além do atual chefe da Saúde, Marcelo Queiroga.
O ex-chanceler Ernesto Araújo, o gerente-geral da Pfizer para a América Latina, Carlos Murillo, o ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten e o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, também prestaram depoimento.
A CPI da Covid-19 tem o objetivo de investigar as ações e omissões do governo federal no enfrentamento à pandemia e, em especial, no agravamento da crise sanitária no Amazonas com a ausência de oxigênio, além de apurar possíveis irregularidades em repasses federais a estados e municípios. (Metrópoles)