Maria José Rocha Lima*
Meu querido pai, Hugo Lima, completaria 93 anos neste 13 de maio, mas se “picou”, palavra que bem expressava o jeito sempre apressado de viver pouco antes de completar os seus 90 anos. Era famoso por chegar nos lugares com pressa, inquieto, como se estivesse pronto para partir: “Vou me picar, vou me picar!”.
Não era dado a palavrões, nem uso de gírias – “me picar” era a única que ele pronunciava.
Minha mãe me achava agitadinha como ele.
Bonitão e vaidoso, se cuidava como ninguém.Me achava desarrumada e costumava me perguntar:
– Maria, você vai sair, assim, desarrumada? Estranhava que eu não usasse salto alto, maquiagem e roupas mais formais.
O velho era orgulhoso das filhas. Costumava dizer: “Só tive filhas mulheres, todas inteligentes”.
Eu ria à vontade. Sabe que ele tem razão? Somos quatro mulheres viradas: Sônia Costa, Sueli Canato, Carmem Lúcia e eu, a mais bestinha. Morreu rápido, depois de um desmaio na rua, onde o velho Hugo Lima mais gostava de estar, visitando os shoppings de Salvador, tirando gracinhas com as moças bonitas das lojas do Boticário, Louis Vuitton, Havaianas e Vivara. Antes de morrer, pediu ao seu genro querido, terno e prestimoso que ligasse pra mim: -Abraão, ligue para Maria e diga a ela que eu a amo.
E partiu.