Planta africana foi usada para produzir 20 tipos de diferentes substâncias sintéticas apreendidas em forma de 5,5 mil comprimidos e cristais
A coragem é ilimitada e acompanha a onda de alucinações. O corpo curvado semelhante ao de um macaco e o ímpeto para pular de prédio ou se jogar contra veículos são sintomas provocados por uma nova classe de drogas sintéticas monitorada por peritos criminais do Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).
Pelo menos 20 derivações de estimulantes alucinógenos são fruto de uma espécie de arbusto chamado Khat, que cresce apenas nas áreas tropicais da África Oriental e de países da península Arábica, mas que já cruzou o Oceano Atlântico e desembarcou na capital da República. A planta ganhou o nome científico de catinona sintética e se tornou uma espécie de “mãe” de outras drogas geneticamente modificadas.
Um dos peritos do IC mapeou o registro de 200 ocorrências envolvendo a apreensão de mais de 5,5 mil comprimidos e cristais contendo 20 substâncias diferentes, todas derivadas da catinona sintética. Elas estão nas ruas e, na maioria das vezes, são traficadas como outro tipo de entorpecente, que pode ser ecstasy, cristal e ketamina, por exemplo.
Morte em rave
Entre as derivações de drogas sintéticas elaboradas a partir da planta africana, a mais encontrada no DF é a N-etilpentilona. A substância é distribuída por traficantes em forma de comprimidos e cristais. Em quase todas as oportunidades, a pessoa usa a droga sem saber, de fato, o que está ingerindo. O comprimido é similar ao ecstasy, mas, na verdade, é um estimulante ainda mais perigoso.
O caso mais grave envolvendo o uso da N-etilpentilona é a morte de uma estudante de enfermagem, em 25 de junho de 2018. Os peritos do IC identificaram traços da substância no organismo de Ana Carolina Lessa, 19 anos. A jovem ingeriu a droga durante uma festa rave, ocorrida na zona rural do Recanto das Emas. Testemunhas afirmaram que ela se debatia e se jogava contra as grades que cercavam o local do evento.
Ana Carolina chegou a ser dada como desaparecida, mas foi localizada na casa de um colega, em Ceilândia. A estudante de enfermagem teve duas paradas cardíacas e falência renal no hospital. No laudo médico, constam hematomas e escoriações nas pernas e nos braços, além de ferimentos na região genital e no ânus da jovem. Um outro laudo comprovou, no entanto, que não houve abuso sexual.
Pó de macaco
Além dos outros 20 tipos apreendidos no DF que são derivados da catinona sintética, existe uma substância que ganhou o apelido de “pó de macaco” e se tornou responsável por uma epidemia tanto nos Estados Unidos quanto em países europeus, como o Reino Unido.
Trata-se de um entorpecente com efeito analgésico e que provoca alucinações praticamente instantâneas. A rápida ação da droga leva o usuário à perda do julgamento de valor e ao desequilíbrio das faculdades mentais.
Com isso, a analgesia proporcionada pelo consumo desse tipo de tóxico expõe o usuário ao maior risco de morte: como ele não sente dor, o entorpecente provoca delírios que levam à mutilação ou até ao suicídio. “Ainda não apreendemos essa substância no DF, mas outras muito similares a ela, como é o caos da N-etilpentilona, que provocou a morte da estudante Ana Carolina Lessa. Com certeza, muitos usuários no DF estão usando drogas derivadas da catinona sintética sem fazer a menor ideia. Isso é extremamente perigoso”, alertou o perito criminal do IC Luciano Chaves.
Chaves explicou que as características do “pó de macaco” tornam seus usuários completamente imprevisíveis e uma ameaça para si e para outros de seu convívio familiar ou social. “Sob efeito dessa substância, os dependentes químicos fazem coisas estranhas, como morder pessoas e invadir residências alheias”, afirmou.