Maria José Rocha Lima*
Nossos pais, familiares, colegas de trabalho, companheiros, amigos e conhecidos nos influenciam o tempo todo. E a professora Anorina Smith foi uma pessoa que muito me inspirou na luta em defesa dos professores baianos e da educação.
Estamos sempre expostos às pressões externas, mas com a Anorina era diferente. Ela era imperturbável, se mantinha firme e serena à frente do movimento. Durante 14 anos, foi dirigente sindical dos professores, inicialmente em Itabuna, depois nas décadas de 80 e 90 dirigente estadual do Sindicato dos Trabalhadores em Educação – APLB-, com muita personalidade, nos ensinando sobre como não se deixar abalar frente às pressões políticas e aos obstáculos. Anorina tinha respeito aos líderes genuínos, como a professora Marinalva, o professor João Leite, entre outros, e convivia com os diferentes líderes partidários de forma respeitosa. Sem confrontos, mas deixando claras as suas diferenças, vivia cercada de professores dos mais diversos partidos: Júvia Gualberto, Lenise Novais, Celiadalva e Cristina Vieira. Algumas dessas professoras eram simpatizantes ou integrantes do Partido Comunista do Brasil –P C do B- de Itabuna, como era o caso de Miralva Moitinho. Também lidava bem com lideranças dos diversos partidos como as do PT, do PMDB, PSB e PDT, embora pertencesse a uma família que integrava o PSDB local, se fazendo respeitada por todos. Personalidade madura e acabada, sempre avaliava as propostas de forma desapaixonada, porém com firmeza de intenções.
As atividades organizadas pela Associação de Professores de Itabuna –API – eram exemplares, tanto pela ampla participação, como pelas repercussões no movimento dos professores em todo o estado. Ela impunha respeito como liderança sindical, não por acaso o movimento, por ela liderado, se espalhou por toda a região do cacau. Ela não se deixava aprisionar por limites territoriais nem partidários.
Em 1989, a API transformou-se em Sindicato, vinculando – se à APLB e tornando –se a Delegacia Regional.
A Marcha Anísio Teixeira foi assumida por Anorina, na sua plenitude. Ela e o grupo de militantes sob a sua liderança se constituíram em modelo de atuação para outros municípios baianos. Ela fizera um diagnóstico da situação da educação na região que em nada deixava a dever aos órgãos governamentais. Aliás, o governo nunca teria feito uma radiografia tão perfeita, ainda que reunisse todas as condições. Anorina foi aluna do Curso Normal no Colégio Estadual de Itabuna, tinha paixão pelo magistério. Como eu e a professora Marinalva Nunes, ela cursou Ciências Físicas e Biológicas. Foi aprovada em dois concursos públicos. Nós brincávamos com ela, perguntando: -Anorina, para que ser professora com essa longa jornada, se você é de família rica?
Ela ria e respondia:
-Eu sempre tive vontade de ser professora. Desde criança. Eu fiz dois concursos. A gente ganhava muito pouco, né? Aliás, professor até hoje ganha muito pouco!
A professora Anorina Smith foi uma das primeiras lideranças de professores a se eleger vereadora, para a Câmara Municipal de Vereadores de Itabuna, em 1992. Um mandato conquistado pela sua luta de décadas na API\APLB Sindicato.
Em 2003, como assessora especial do Ministro da Educação Cristovam Buarque, tive a enorme alegria de recebê-la como representante da União dos Conselhos Municipais de Educação – UNCME- e conduzi-la ao gabinete do ministro para uma foto. E numa rápida conversa com o ministro destaquei o seu papel relevante, como sindicalista, na luta dos professores baianos; a sua grande contribuição na função de Presidente do Conselho Municipal de Educação de Itabuna durante dez anos, no período de 1998 – 2008, tendo o reconhecimento da UNCME, como um Conselho de Referência Nacional.
A educadora, como nos velhos tempos sindicais, ao assumir a Secretaria da Educação, em janeiro de 2017, fez um diagnóstico sobre a situação física das escolas, inclusive com fotos. No diagnóstico, segundo a secretária, ficou clara a grave realidade da infraestrutura de todas as escolas, urbanas e do campo. Para Anorina Smith, a meta da sua gestão era realizar, num prazo de dois anos, manutenção, adequações e reformas das escolas. E em 2018, reunida com 12 secretários de educação do Sul da Bahia, deu início à terceira fase dos encontros de orientação para a construção e adequação do Plano de Carreira do Magistério.
Em maio de 2018, quando Itabuna voltou ao noticiário nacional devido à precariedade das escolas, o prefeito decidiu exonerar Anorina, que mais uma vez mostrou sua autenticidade, cumprindo os seus compromissos históricos com a educação.
*Maria José Rocha Lima é mestre e doutoranda em educação. Foi presidente da APLB. Deputada de 1990 a 1999. Presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira. Psicanalista da ABEPP. Membro do Clube Internacional das Soroptimistas Sudoeste Brasília.