Na sala Vermelha da Upa de São Sebastião, eles ajudam doentes que necessitam ficar deitados de bruços para facilitar a respiração
Almofadas em forma de coração, usados para aliviar a dor de mulheres que tiraram os seios por causa do câncer, estão sendo usadas para facilitar a respiração de pacientes com Covid-19 na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de São Sebastião, no DF. Com a ajuda dos travesseiros, internos da “Sala Vermelha”, que precisam ficar de bruços para melhorar o funcionamento dos pulmões, conseguem um melhor apoio para a cabeça e os ombros.
A ideia partiu da enfermeira Lívia Barra, de 39 anos. Em casa, ela costurou as almofadas que já estão sendo testadas – e aprovadas – pelos doentes.
“Ficar muito tempo de barriga pra baixo é muito desconfortável. Com a ajuda da almofada, é possível apoiar a cabeça no ombro, o que gera conforto e dá mais qualidade à internação”, diz a enfermeira.
Com os pulmões afetados, os doentes são colocados de bruços durante boa parte do tempo. Isso melhora a capacidade de respirar, e aumenta a oxigenação do sangue, segundo a enfermeira.
Mas a posição pode dificultar o encaixe adequado da máscara de oxigênio. Com a almofada, “o pescoço e a cabeça ficam mais bem posicionados”, diz Lívia.
Outras “técnicas” para dar mais conforto aos doentes de Covid-19 também chamam a atenção. No Rio de Janeiro, a atitude da enfermeira Lidiane Melo, de 36 anos, acabou sendo reconhecida até pelo diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus.
Durante um plantão tenso, cheio de pacientes dando entrada na emergência de um hospital na Ilha do Governador, Lidiane não conseguia medir a saturação de um paciente. Foi quando decidiu colocar duas luvas com água quente na mão do interno.
Em 3 minutos, a circulação sanguínea do doente melhorou. As “mãozinhas” também trouxeram calma para o paciente, sozinho em um leito de UTI, e a técnica acabou sendo seguida por outros profissionais de saúde.
Em 2018, a enfermeira Lívia Barra começou a atuar em um grupo de voluntárias que ajudam mulheres com câncer. Foi no “Rompendo Mais Fronteiras” que ela aprendeu a fazer os “corações de pelúcia”, distribuídos nos hospitais públicos de Brasília para mulheres recém-operadas de câncer de mama.
“Por serem anatômicos, os travesseiros ajudavam na posição, na hora de dormir, porque a cirurgia de retirada das mamas é dolorosa”, conta Lívia.
Em fevereiro deste ano, o marido dela contraiu Covid-19 e foi internado em estado grave. Na tentativa de aliviar as dores de Glauco, Lívia lembrou das almofadas em formato de coração.
“Peguei uma que estava aqui em casa e levei até o hospital. Quando ele usou, ficou mais confortável e foi melhorando”, diz Lívia.
Glauco usou a almofada durante dez dias. A enfermeira conta que, vendo que o travesseiro havia trazido mais conforto para o marido, decidiu oferecer os “corações” para os pacientes da UPA de São Sebastião.
“Depois que eu colocava a almofada nos pacientes, eles estampavam no rosto uma sensação de alívio, uma expressão mais alegre”, conta.
Para Lívia, além do conforto físico, para a posição da cabeça e do pescoço, o calor humano envolvido no ato de doar uma almofada em formato de coração também ajuda. “Acredito que, só o fato de ganhar um presentinho em um momento de tantas renúncias, já os deixa melhor”, diz a enfermeira do Distrito Federal.
Com G1/DF