Em carta ao governador Ibaneis Rocha, reitora Márcia Abrahão apresentou dados que mostram gravidade da situação na capital. Segundo instituição, taxa de reprodução de vírus está em 1,31.
A reitora da Universidade de Brasília (UnB), Márcia Abrahão, enviou uma carta ao governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), pedindo a adoção imediata de restrições rigorosas na capital para melhorar a “situação de colapso” vivida na capital devido à pandemia de Covid-19.
No documento, enviado na quinta-feira (8), a reitora afirma que “é nossa responsabilidade recomendar à Vossa Excelência, respeitosamente, a adoção de isolamento social rígido (lockdown), até que os indicadores baixem a níveis que permitam flexibilização”.
A carta traz dados que apontam para a gravidade da pandemia no DF. Segundo o documento, a taxa atual de transmissão do novo coronavírus na capital é 1,31. Ou seja, de acordo com o levantamento, cada 100 pessoas infectam outras 131.
O dado é diferente e mais alarmante que o apresentado pelo governo do DF que, desde semana passada, afirma que a taxa de transmissão está abaixo de 1 na capital. Questionado sobre a carta, o GDF não havia se manifestado até a última atualização desta reportagem.
Dados preocupantes
O documento afirma que, para fazer o pedido, os pesquisadores da UnB se basearam nas seguintes informações:
- O histórico do número de casos e óbitos confirmados por Covid-19;
- O número reprodutivo de casos acima de 1,31, de forma que podemos interpretar que a cada 100 casos de Covid-19 identificados possam transmitir para 131 pessoas;
- O histórico de uso dos leitos de UTI por pacientes com Covid-19, seja na rede pública ou privada, do Distrito Federal;
- Previsão de necessidade de leitos de UTI, com a baixa cobertura de vacinas (apenas 60 anos ou mais), utilizando-se de modelos dinâmicos por equações diferenciais;
- Redução da oferta de testagem no Distrito Federal por técnicas de RT-PCR;
- Indisponibilidade de um programa de monitoramento e estabelecimento de quarentena de contatos pela atenção primária;
- Ausência de uma campanha educacional consistente, com coordenação central, para estimular o uso das medidas como lavagem das mãos, uso de máscaras, uso de álcool em gel e distanciamento social;
- Ritmo lento da vacinação com uma baixa proporção (4%) da população imunizada.
“A análise da situação epidemiológica atual associada à limitada capacidade de expansão da oferta de atenção na rede pública e privada, corroborados pelas estimativas de casos e de óbitos obtidas pelos modelos de predição, impõe a necessidade de alertar os órgãos do Governo do DF para a aplicação imediata de medidas restritivas rigorosas, o que reduzirá a transmissão de SARS-CoV-2 e, consequentemente, possibilitará a melhora da situação atual de colapso do sistema de saúde local”, diz o texto.
Ainda de acordo com a UnB, “essa medida deverá ser acompanhada de suporte financeiro para população vulnerável e microempresários, e ainda, de forte campanha centralizada de conscientização da sociedade quanto à manutenção das medidas sanitárias e de distanciamento”.
Retomada das restrições
O pedido de isolamento rígido na capital foi enviado um dia antes de o Superior Tribunal de Justiça (STJ) permitir o funcionamento de atividades não essenciais, como bares, restaurantes, shoppings e comércio de rua.
A Corte atendeu a um pedido do GDF e derrubou uma decisão anterior, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), que havia determinado a retomada de restrições a esses serviços, por conta do agravamento da pandemia.
Entre 28 de fevereiro e 29 de março, o governo local chegou a determinar o fechamento dessas atividades, por conta da alta de casos, mortes e da taxa de ocupação de leitos de UTI por pacientes com Covid-19. No fim do mês passado, no entanto, o governador Ibaneis Rocha flexibilizou as medidas.