“Estamos muito frustrados porque a conta vai chegar e não temos dinheiro porque não estamos trabalhando. Para ser honesta, não sei como vamos pagar por isso”, disse a brasileira Elaine Araújo à rede de TV britânica Sky News.
Elaine e seu marido, Wagner, são alguns dos primeiros passageiros a chegar ao Reino Unido após as novas regras de quarentena para viajantes.
Em vigor desde segunda-feira (15/2), as normas estabelecem que passageiros que retornem ao Reino Unido dos 33 países da chamada “lista vermelha”, como Brasil, Portugal e África do Sul, nos últimos 10 dias, são obrigados a fazer quarentena em hotéis a um custo de 1.750 libras (cerca de R$ 13 mil). Apenas britânicos, irlandeses e residentes podem entrar no país. O isolamento dura 10 dias.
Segundo o governo britânico, o objetivo é impedir a entrada de variantes da covid-19 no país.
Elaine e Wagner moram no Reino Unido há mais de 20 anos e têm quatro filhos.
Eles afirmaram à Sky News que pretendiam passar apenas 15 dias no Brasil por motivos familiares, mas o voo de volta de 3 de fevereiro foi cancelado. Como resultado, acabaram sendo obrigados a viajar com outra companhia aérea.
A operadora mudou a data de partida do casal, e eles chegaram ao Reino Unido na segunda-feira – o primeiro dia das novas regras.
“Pensamos que íamos voltar antes de tudo isso acontecer, é muito estressante”, disse Elaine à Sky News.
Wagner descreveu o quarto como “uma prisão com uma cama boa”.
“Estamos aqui há quatro horas e já estamos loucos. Se você ver o quarto, é como uma prisão com uma cama boa”.
“Você tem que jogar cartas, ler livros e dormir por 10 dias, é isso”.
“No final, acho que nos sentiremos deprimidos”, acrescentou Elaine.
Ela também explicou que qualquer comida e bebida além das três refeições e garrafas de água que recebem todos os dias deve ser paga por eles.
“Não podemos sair do quarto”, disse.
“Sentimos falta de nossos filhos. Eles precisam desesperadamente nos ver.”
Em comunicado do governo britânico, o secretário de Saúde, Matt Hancock, defendeu a necessidade das medidas de quarentena dos viajantes. “À medida que este vírus mortal evolui, também temos de evoluir nossas defesas. Já havíamos tomado ações duras para limitar o contágio, proteger as pessoas e salvar vidas. Com a emergência de novas variantes, precisamos ir além. As novas regras vão reforçar a quarentena e trazer uma nova camada de segurança contra novas variantes nas fronteiras”.
Ele agregou que as medidas são importantes para “proteger nosso programa de vacinação (…) e para o trabalho rumo à restauração da vida normal”.
‘Por que preciso ficar no meu quarto por 10 dias?’
Roger Gonçalves, natural de Belo Horizonte, está hospedado no mesmo hotel que o casal Araújo depois de voar de volta do Brasil via Madri.
O entregador de 23 anos disse à agência de notícias PA: “Estou triste, não estou bem porque preciso ficar dez dias no quarto”.
“Eu fiz meu teste para coronavírus. O teste deu negativo. Por que eu preciso ficar no meu quarto por dez dias?”
Ele tentou voar de volta ao Reino Unido na semana passada, antes que as novas regras entrassem em vigor, mas seu voo foi cancelado.
Gonçalves cogitou não viajar, mas disse: “Preciso voltar ao trabalho.”
Segundo ele, o custo da estadia no hotel é “muito alto” e “uma loucura por dez dias”.
“O pessoal do hotel vai me dar comida no almoço e no jantar, tudo, mas não posso sair.”
Questionado sobre como irá passar o tempo, Gonçalves disse que iria “ver televisão” e “ver Netflix”.
Ele está dividindo o quarto com a amiga Andressa Pelosini, de 43 anos. Sua imagem, fazendo o sinal de negativo com o polegar, estampou a capa dos principais jornais britânicos nesta terça-feira (16/2).
Já a grega Zari Tadayon, de 66 anos, está hospedada sozinha em um hotel no aeroporto de Heathrow. Ela faz 67 anos amanhã e vai passar o aniversário sem familiares ou amigos.
Ela voou de volta de Dubai (Emirados Árabes Unidos) via Frankfurt (Alemanha) depois de não conseguir reservar um voo anterior.
“Tentei voltar a Londres antes do dia 15, mas não havia voos disponíveis, estava tudo reservado”, disse.
Em entrevista à PA, Tadayon disse estar preocupada com sua saúde e por não ter nada para fazer.
“Me sinto péssima porque moro aqui, tenho minha própria casa e também tenho alguns problemas médicos que esperava que eles (autoridades de saúde) considerassem”.
“Não sei como vou lidar com isso. Vai ser difícil. Não estou preparada. Não trouxe livros e outras coisas”, disse ela.
Questionada sobre como estava se sentindo, ela respondeu: “Não muito feliz porque amanhã é meu aniversário e eu gostaria de estar com minha família … essas são as regras, o que você pode fazer?”
“Meu quarto é bastante básico… acho que o custo é bastante alto para o que estamos recebendo.”
Ela explicou que o hotel pode receber entregas de alimentos em nome dos passageiros – mas quaisquer extras terão que ser pagos.
Os passageiros que chegam ao Reino Unido dos 33 países da lista vermelha estão sendo levados direto do saguão de desembarque para seus hotéis de ônibus.
Segundo o governo britânico, 4.963 quartos estão disponíveis em 16 hotéis de aeroporto, com outros 58 mil em espera.
Quem burlar a quarentena forçada em hotéis pode ter que pagar uma multa de até 10 mil libras (cerca de 75 mil). O viajante que for pego mentindo sobre o trajeto de sua viagem pode ser condenado a até 10 anos de prisão. (BBC NEWS)