Defensor de Trump, ele usava sua fortuna para promover políticas de extrema direita em Israel e nos Estados Unidos
WASHINGTON — Morreu nesta terça-feira, aos 87 anos, o magnata Sheldon Adelson, dono maior império de cassinos e resorts do planeta que usava sua fortuna para financiar agendas de extrema direita nos Estados Unidos e em Israel. O bilionário era um dos principais patronos do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e um notório aliado do presidente americano, Donald Trump.
Adelson fazia lobby para a reabertura dos cassinos no Brasil, defendendo o fim da proibição imposta em 1946. Em janeiro de 2020, ele recebeu uma comitiva liderada pelo senador Flávio Bolsonaro e pelo então presidente da Embratur e atual ministro do Turismo, Gilson Machado, para uma reunião nos EUA. Em 2018, durante uma visita ao país, Adelson teve encontros com figuras como o então prefeito do Rio, Marcelo Crivella.
Sua onipresença na discussão era tamanha que o projeto de lei que tramita no Congresso sobre o assunto é chamado por detratores de “Lei Sheldon Adelson”. O forte lobby surtiu efeito, com figuras como o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, indicando apoiar os megacomplexos que reúnem lojas, cassinos, hoteis e restaurantes, transformando-os em destinos de luxo.
Até mesmo Bolsonaro, que durante a campanha chegou a dizer que os cassinos serviriam para “lavar dinheiro” e “destruir famílias”, parece agora defender a regulamentação, segundo fontes próximas ao presidente. Publicamente, no entanto, o presidente mantém suas ressalvas, evitando contrariar a base evangélica.
Nascido em Boston em uma família pobre de imigrantes judeus, Adelson construiu um império de cassinos em Las Vegas, Macau e Cingapura. Dono da Las Vegas Sand Corporation, ele tinha, em 2019, uma fortuna de US$ 33,9 bilhões (R$ 185 milhões), sendo o 24 homem mais rico do mundo, segundo a Bloomberg.
O magnata, vítima de complicações de um linfoma, era uma figura proeminente da direita americana e um grande doador de Donald Trump. Apenas em 2018, Adelson e sua mulher, a médica Miriam Ochshorn, doaram mais de US$ 123 milhões (R$ 671,7 milhões) para causas e candidatos republicanos, mais do que qualquer outra pessoa, segundo levantamento feito pelo Centro para Políticas Responsivas.
Após uma relutância inicial, o casal desembolsou US$ 20 milhões (R$ 109,2 milhões) para apoiar a candidatura de Trump em 2016 e seu jornal, o Las Vegas Review Journal, foi o único grande impresso a endossar o presidente nas eleições gerais. Adelson havia comprado o jornal um ano antes, usando uma companhia fantasma para esconder sua participação. Quando o comprador foi relevado, o editor e alguns jornalistas pediram demissão.
— Eu sou contra pessoas muito ricas tentarem ou influenciarem eleições, mas enquanto isso for possível, eu o farei — ele disse à Forbes em 2012, quando desembolsou milhares de dólares no Partido Republicano para tentar impedir a eleição de Barack Obama.
Após a vitória de Trump, Adelson desembolsou US$ 5 milhões (R$ 27,3 milhões) adicionais para a cerimônia de posse e mantinha contato regular com o presidente. Ele viu algum dos pontos que pleiteava se concretizarem, como a transferência da embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém, rompendo com décadas de política externa americana. Em 2018, ele recebeu uma Medalha da Liberdade, a maior honraria concedida a civis pelo governo — algo visto por críticos como um “obrigado” pelas doações de campanha.
Em Israel, Adelson era um grande apoiador de Netanyahu, de quem era amigo próximo, e do seu Likud. Zionista, ele se opunha à cidadania para palestinos e defendia os internacionalmente criticados assentamentos na Cisjordânia, por exemplo.
Em 2007, ele lançou o jornal gratuito Israel Hayom, que se tornou o mais lido no país, apesar das críticas de que favoreceria o premier. O magnata viajava à Israel, terra natal de sua mulher, entre seis e oito vezes ao ano e chegou a pensar em se mudar para lá permanentemente.
Nascido em 1933, Adelson começou a trabalhar como vendedor de jornais, aos 12 anos e, aos 16, já comandava um pequeno negócio de máquinas que vendiam doces. Após uma série de empreitadas comerciais, ele comprou o então decadente Las Vegas Sands Hotel, transformando-o primeiramente no maior centro de convenções do país e, depois, no hotel-cassino Venetian, um dos mais populares da cidade.
Ao longo dos anos, Adelson travou batalhas judiciais contra jornalistas, ex-funcionários e até mesmo seus próprios filhos. Suas empresas enfrentaram acusações de subornarem autoridades americanas e chinesas, tolerarem a prostituição e a máfia.
O magnata negava as acusações e nunca foi pessoalmente implicado. Sua companhia também nunca foi condenada por crimes sérios, mas pagou em 2013 uma multa de US$ 47 milhões para evitar ser acusada em uma investigação sobre lavagem de dinheiro.
O GLOBO