Possível terapia com suplementação de alfa-1-antitripsina utiliza medicamentos que já estão no mercado. Pesquisa brasiliense foi publicada em revista científica internacional.
Pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) avaliam o potencial da proteína alfa-1-antitripsina (A1AT) no tratamento de infectados pelo novo coronavírus. Se confirmada a eficácia, o estudo indica que pacientes podem ser medicados com produtos que já estão no mercado.
“A A1AT é uma proteína produzida no fígado, que tem um papel importante para inibir processos inflamatórios agudos”, explica o doutor em virologia molecular e professor do Departamento de Farmácia da UnB Enrique Argañaraz, um dos coordenadores do estudo. O tratamento é feito por meio de suplementação da substância.
A pesquisa brasiliense foi publicada na revista norte-americana Reviews in Medical Virology. O estudo foi iniciado analisando a eficácia da proteína para evitar complicações em pacientes com HIV. Após a pandemia, os especialistas perceberam que ela também poderia ser usada contra a Covid-19.
Segundo o pesquisador, artigos internacionais já analisaram a relação da proteína e o agravamento dos casos da Covid-19. “Um estudo italiano constatou incidência importante da deficiência da A1AT na região da Lombardia [na Itália], onde a letalidade da Covid-19 foi alta”, conta Enrique.
De acordo com o professor, pessoas com deficiência de A1AT têm mais riscos de desenvolver complicações causadas por doenças virais. A proteína poderia inibir, por exemplo, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), comum entre as mortes de infectados pelo novo coronavírus.
Medicamentos e vacina
Enrique Argañaraz explica que, embora as atenções do poder público e da população estejam voltadas para a vacina, a imunização pode ser “apenas um paliativo”, ou seja, não eliminaria todos os riscos, por conta do potencial de mutação do coronavírus.
“Esse vírus já está mostrando um grande poder de adaptação, de mutação. Pode ser que, ao passar um tempo, se torne muito infeccioso e patogênico. Encontrar uma terapia que permita ao paciente lidar melhor com a infecção é muito importante”, explica o especialista.
Para que a proteína seja usada no tratamento da Covid-19, no entanto, seria necessário um teste clínico em pacientes. Porém, faltam recursos para implementar uma pesquisa desse porte, segundo o especialista.
Atualmente, o grupo tenta avançar no estudo por meio de um ensaio in vitro – ou seja, em laboratório, sem uso de animais ou humanos. “Infelizmente, enfrentamos esse problema da falta de recursos no Brasil”, lamenta o professor.
A UnB criou um fundo de doaçõescomo forma de ajudar os pesquisadores da instituição. Entre eles, está um laboratório de segurança, considerado o ideal para pesquisas que envolvem doenças virais. Qualquer pessoa pode ajudar, e as doações não têm valor mínimo.
G1 DF*