Presidente, sem provas, passou a levantar suspeitas sobre a confiabilidade do processo eleitoral brasileiro
BRASÍLIA — Antes de passar a defender publicamente a volta do voto impresso e a levantar suspeitas, sem provas, sobre a confiabilidade do processo eleitoral brasileiro, o presidente Jair Bolsonaro chegou a defender a “informatização” das eleições, como mecanismo para combater as fraudes. A defesa foi feita em 1993, quando era deputado federal e as urnas eletrônicas em todo o território nacional ainda eram uma realidade distante.
Nos últimos seis anos, no entanto, Bolsonaro elaborou propostas — enquanto congressista — a favor da reimplantação do voto impresso e passou a associar — enquanto candidato e presidente — o modelo brasileiro à possibilidade de fraudes, tese jamais comprovada.
Na quinta-feira, ao tratar da invasão do Congresso americano por apoiadores do presidente Donald Trump, Bolsonaro afirmou que o Brasil poderá viver um “problema pior”, caso o voto impresso não seja retomado até 2022. Veja abaixo a cronologia de manifestações de Bolsonaro sobre o assunto ao longo de quase trinta anos.
1993
Quando o voto ainda era de papel, Bolsonaro defendeu a informatização para evitar fraudes. Segundo a edição de 21 de agosto de 1993 do “Jornal do Brasil”, Bolsonaro, que estava ainda em seu primeiro mandato como deputado federal, disse em um encontro no Clube Militar: “Esse Congresso está mais do que podre. Estamos votando uma lei eleitoral que não muda nada. Não querem informatizar as apurações pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral). Sabe o que vai acontecer? Os militares terão 30 mil votos e só serão computados 3.000.”
2015
Quando ainda era deputado, foi um dos autores de propostas reintroduzindo o voto em papel. Naquele ano, em acordo do qual ele participou, foi aprovada uma minirreforma eleitoral que, entre outros pontos, garantia o voto impresso. Esse trecho da lei foi derrubado em 2018 pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
2018
Durante a campanha eleitoral, que ele viria a vencer, fez acusações sem provas de que teriam ocorrido fraudes na votação eletrônica e defendeu o voto impresso. “Um sistema eleitoral em que já tínhamos acertado uma maneira de auditá-lo, que é o voto impresso, lamentavelmente o Supremo Tribunal Federal derrubou. E também o sistema eleitoral que não é aceito em nenhum lugar do mundo. Então, a dúvida fica”, disse Bolsonaro em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, em 29 de setembro.
Março de 2019
Em entrevista nos Estados Unidos, o presidente afirmou que tinha “provas” de que houve fraude nas eleições do Brasil em 2018. Ele afirmou que tinha informações de que teria vencido o pleito já no primeiro turno. Ele nunca apresentou as supostas provas.
Julho de 2019
Anunciou que enviaria um projeto ao Congresso para estabelecer o voto impresso. A promessa ainda não foi cumprida.
Novembro de 2020
Ao votar no Rio, no segundo turno da eleição municipal, disse: “A questão do voto impresso é uma necessidade, está na boca do povo, e as reclamações são demais. Não adianta alguém bater no peito e falar que é seguro. Nós pretendemos, a partir do ano que vem, partir pra isso.”
Janeiro de 2021
Por três dias seguidos, falou, sem provas, de fraudes tanto no sistema eletrônico brasileiro, como na eleição dos Estados Unidos, que terminou com a derrota de seu aliado Donald Trump, que tentava se reeleger.
Dia 5: “Se aprovar voto impresso, abstenção vai cair bastante. Parte considerável da população não acredita no voto como taí.”
Dia 6: “Era pra eu ter ganho no primeiro turno. Ninguém reclamou que foi votar no 13 (número do PT) e a maquininha não respondia, mas o contrário, quem ia votar no 17 (número do PSL, partido ao qual ele era filiado), ou não funcionava ou apertava o 1 e já aparecia o 13 lá.”
Dia 7: fez uma referência à invasão do Congresso dos Estados Unidos por apoiadores de Trump, que não aceita a derrota eleitoral: “Se nós não tivermos o voto impresso em 22, uma maneira de auditar o voto, nós vamos ter problema pior que os Estados Unidos.”