Reforma da Secretaria de Educação tem por objetivo o protagonismo juvenil na formação
A partir desse ano, os alunos do ensino médio da rede pública do DF terão contato com o novo modelo de currículo aprovado pela Secretaria de Educação nesta segunda-feira (4). O projeto permitirá ao aluno decidir parte das matérias cursadas, conforme sua área de interesse. “O estudante, de acordo com seus projetos de vida, poderá fazer suas escolhas”, afirma Érika Botelho, gerente de Integração Curricular com a Educação Profissional da Diretoria de Ensino Médio da Secretaria de Educação do DF (SEEDF).
Inicialmente, o novo currículo será implementado em 12 escolas espalhadas pela capital. “Como o currículo foi aprovado pelo Conselho de Educação no último dia 8 de dezembro, a partir de 2021 nós teremos unidades escolares piloto para a implementação desse modelo”, explica Érika. A gerente acrescenta que, o plano da pasta é ter, até 2024, todas as séries do ensino médio seguindo a medida.
“Em 2022, todas as primeiras séries das nossas escolas estarão aplicando o novo currículo. Em 2022, teremos a entrada das primeiras séries, em 2023 das segundas séries e em 2024 todo o ensino médio, com as terceiras séries”, completa.
A ideia, de acordo com Érika Botelho, é incentivar o protagonismo juvenil, dando aos estudantes a oportunidade de realizarem escolhas dentro da própria formação. “Ele vai poder tomar decisões no seu percurso formativo, isso tudo orientado pelos professores da rede”, ressalta. Conforme o modelo, cada escola irá propor um conjunto de percursos de formação, de acordo com o seu corpo docente. Dando aos alunos essa possibilidade, a representante da pasta afirma que pretendem também diminuir os números de evasões escolares.
“A ideia é oportunizar ao jovem e diminuir os índices de evasão e retenção dentro do ensino médio” acrescenta.
Para alguns estudantes, o novo currículo é esperado com empolgação. “Nesse modelo você pode desenvolver aquilo que gosta, se aprofundar e chegar com uma boa base na faculdade”, diz Ana Louise do Nascimento, de 15 anos. Para a moradora do Gama que irá cursar o 1º ano do ensino médio, ao fornecer o poder de escolha aos jovens, a proposta desperta nos alunos o autoconhecimento e o planejamento. “Vai fazer o estudante pensar, se planejar, e isso nos dá independência”, completa Ana.
Avaliações em seis semestres
Publicada no Diário Oficial do DF, a portaria que prevê as alterações corresponde ao Currículo em Movimento do Novo Ensino Médio. De acordo com a Secretaria de Educação, os estudantes do ensino médio deixarão de ser separados por séries e passarão a ser avaliados em seis semestres, funcionando de forma semelhante às universidades.
Com a reforma, os alunos da rede terão matérias caracterizadas como obrigatórias e eletivas, e deverão gerar o total de 180 créditos, no decorrer dos seis semestres, para conseguirem a aprovação. De acordo com Érika, a discussão acerca da mudança no modelo de ensino acontece há anos. “Com a homologação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o ensino médio no final de 2018, todas as redes de ensino, de todo país, tiveram que revisar e modificar os seus currículos. Foi isso que o Distrito Federal fez”, relata a gerente.
As matérias consideradas obrigatórias serão chamadas de “formação geral básica”, e será composta por quatro áreas, separadas por componentes. São elas: Linguagens e suas tecnologias (português, inglês, arte, educação física), Matemática e suas tecnologias (matemática), Ciências da natureza e suas tecnologias (biologia, física, química) e Ciências humanas e sociais aplicadas (história, geografia, sociologia, filosofia).
Já o “itinerário formativo”, ou seja, as eletivas, terá o conteúdo dividido em quatro tipos: Projeto de vida, Língua espanhola, Eletivas orientadas e Trilhas de aprendizagem. “Essas disciplinas poderão servir, inclusive, como reforço. Posso pegar uma matéria que eu sei que não vou muito bem e reforçá-la”, relata Ana Louise. A estudante conta estar empolgada com as novas possibilidades oferecidas pelo modelo. “Eu espero ter várias matérias, bem diversificadas, e que a gama de matérias eletivas seja bem grande”, completa a jovem. Segundo a secretaria, há 200 disciplinas prontas para serem oferecidas aos estudantes da rede pública da capital. A escolha, por sua vez, deve ser feita ainda no primeiro semestre.
Além da interferência na grade curricular, a proposta permitirá a possibilidade de finalizar o ensino médio com um diploma de curso técnico. Caso seja da sua vontade, o estudante poderá adquirir a formação geral básica e o complemento da educação profissional.
Sinpro DF critica novo currículo
Para a diretora do Sindicato dos Professores do DF (Sinpro DF), Mônica Caldeiras, faltou diálogo com a comunidade escolar na construção do currículo. “A viabilidade desse currículo e a contemplação das necessidades da educação pública aqui do DF não estão presentes em algo que não foi construído com os agentes da educação”, afirma a diretora.
De acordo com a representante, a decisão, além de hierarquizar as disciplinas, tira do aluno o direito de acesso a todas as áreas do conhecimento. “Ele traz uma hierarquia entre as matérias e isso modifica as relações dentro da sua formação. Tanto do aluno, com relação à disciplina, quanto do próprio itinerário, pois você estabelece que algumas matérias são mais importantes que outras”, explica Mônica. “O novo currículo não irá oferecer a ele, de forma equânime, todas as possibilidades das áreas do conhecimento, apenas muda o valor das disciplinas”, completou a diretora.
Quanto ao foco na formação profissional, Mônica ressalta que a decisão estaria impondo aos alunos um único caminho a seguir. O do emprego. Para a diretora do sindicato, se tratando de alunos da rede pública, esse fator deveria ter sido observado pela pasta. “Eles têm o Estado como maior tutor do seu processo de formação. São as políticas educacionais que irão determinar a condição e as oportunidades desse estudante, geralmente de baixa renda”, destaca. “Quando o Estado determina que o estudante irá seguir um caminho onde as condições sociais e econômicas pressupõem que ele tem aquele único itinerário para cumprir, baseado no emprego e não na formação profissional que se passa na universidade, é um prejuízo muito grande”, completa Mônica.
Ensino Médio Integrado
Na avaliação da diretora do Sinpro DF, a melhor proposta de mudança seria o Ensino Médio Integrado, onde, sem abrir mão de nenhuma área do conhecimento em detrimento de um ensino técnico, une-se os dois. “No DF nós temos no currículo, a previsão do Ensino Médio Integrado, que é muito diferente do que está sendo proposto. Aqui, o aluno não perde nada e não tem que fazer nenhuma opção e deixar outras para trás”, enfatiza. Em algumas escolas da capital, o formato integrado de educação já é oferecido. Atualmente, o DF conta com 82 mil estudantes matriculados no ensino médio, distribuídos em 91 escolas.
Quanto ao retorno das aulas presenciais, a pasta informou que o ano letivo de 2021 terá início no dia 8 de março. Se esse retorno irá acontecer de forma híbrida ou não, a entidade diz que irá depender da situação da pandemia na ocasião.
As informações são do Jornal de Brasília