Atual presidente da Casa apresentará candidato à sucessão após reunião com partidos de seu bloco. Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e Baleia Rossi (MDB-SP) são os mais cotados
BRASÍLIA – Sob pressão de aliados, que reclamam da indefinição, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), anunciará hoje o nome que seu bloco de partidos apoiará para disputar o comando da Casa, em fevereiro de 2021. Até o momento, a única candidatura colocada é a de Arthur Lira (PP-AL), que tem o apoio do presidente Jair Bolsonaro no pleito e, a despeito da questão ideológica, faz uma ofensiva sobre partidos de esquerda como PT, PSB, PDT e PCdoB. O apoio dessas legendas é considerado decisivo — algumas delas acenam ainda com a candidatura própria, em resposta à demora de Maia para delinear o quadro.
Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e Baleia Rossi (MDB-SP) são os mais cotados do grupo do presidente da Câmara. O martelo será batido após reunião presencial envolvendo lideranças de DEM, MDB, PSL, PSDB, Cidadania e PV — os seis partidos que integram o bloco de Maia. O grupo estuda até o último momento qual dos dois nomes teria mais chances em uma composição com resto da Câmara.
Aguinaldo Ribeiro tem a vantagem de ser um nome mais palatável para a esquerda, enquanto a candidatura de Baleia Rossi, presidente nacional do MDB, é uma espécie de garantia de que os outros 33 deputados do partido não migrarão para Lira — como a votação é secreta, a avaliação é que boa parte dos emedebistas votem em Lira se Aguinaldo for candidato, mesmo com a permanência oficial do MDB no bloco de Maia.
É justamente esse cálculo que tem provocado demora, por parte de Maia, de anunciar seu nome na disputa. Como a esquerda tende a ser fiel da balança na eleição, há favoritismo para Aguinaldo, que tem mais entrada em partidos como o PT, maior bancada da Casa, com 54 parlamentares. A indefinição, no entanto, faz com que petistas e pedetistas estudem lançar um nome.
— Já aguardamos muito tempo. Se Rodrigo Maia não definir esse nome logo, o PDT vai lançar a candidatura de Mário Heringer (MG) nesta terça-feira — frisou o presidente do PDT, Carlos Lupi.
Lira tem atuado para que dissidências e divisões internas em partidos de esquerda o favoreçam. Para isso, tem atuado no “varejo”, negociando individualmente com deputados desse campo. Maia, por sua vez, vem tentando costurar acordos com líderes e presidentes de partidos de esquerda para que haja unidade no apoio ao seu escolhido, o que tem consumido mais tempo. O fato de o voto ser secreto, no entanto, torna mais difícil esse tipo de acordo “por cima”.
A demora de Maia em anunciar o candidato de seu bloco já trouxe consequências negativas para o presidente da Câmara. Lira obteve um indicativo de apoio de 18 dos 31 deputados do PSB — depois disso, na sexta-feira, o diretório nacional do partido emitiu uma resolução “recomendando” o não apoio de deputados da sigla ao candidato de Bolsonaro. Partidos como PT e PCdoB, por sua vez, aceitaram ouvir as propostas de Lira. A parlamentares de esquerda, o candidato do Planalto tem dito que, se eleito, não botará em votação pautas de costumes ligadas ao conservadorismo.
Ofertas à mesa
O governo pode ajudar Lira nas negociações, abrindo indicações para cargos na gestão. Um dos alvos seria o Republicanos, comandado pelo deputado federal Marcos Pereira (SP), que na semana passada anunciou a saída do bloco de Maia para se lançar como terceira via na disputa. Pereira nega que tenha recebido do Planalto proposta para assumir cargo no governo e, por ora, tem mantido o discurso de que será candidato.
Legendas de centro como o próprio MDB, que integra o bloco de Maia, também estariam recebendo propostas para aceitar cargos no governo em troca de apoio a Lira. Uma fonte do partido, no entanto, diz ser improvável um acordo do tipo, porque MDB e Bolsonaro têm pretensões eleitorais antagônicas na disputa à Presidência da República em 2022.
O GLOBO