A situação de Davi Alcolumbre para tentar a reeleição inconstitucional no Senado, caso consiga esse aval, já foi melhor.
Ontem, como registramos, senadores divulgaram um texto em protesto aos movimentos de Alcolumbre e de Rodrigo Maia para continuarem no poder no Senado e na Câmara, respectivamente. Eles repisaram o óbvio, afirmando que a “alternância de poder é essencial para a democracia” e o “Congresso Nacional deve respeitar a Constituição Federal”.
Um nome chamou a atenção na lista de 14 signatários do documento: Tasso Jereissati, do PSDB, que não integra o grupo “Muda, Senado” — onde a maioria é oposição escancarada a Alcolumbre –, mas também quis apoiar a iniciativa.
O Antagonista apurou que outros senadores até então aliados do atual presidente também se preparam para se manifestar contra a chance de reeleição. No MDB, por exemplo, há um punhado de gente à espreita, aguardando a definição do STF sobre o assunto ou um “maior desgaste” de Alcolumbre para lançar pré-candidaturas — por ora, os senadores Major Olimpio (PSL) e Jorge Kajuru (Cidadania) colocaram seus nomes à disposição.
Um dos motivos que andam irritando inclusive os mais próximos de Alcolumbre é a “dedicação quase exclusiva” aos assuntos do Amapá. Não à toa, o senador virou motivo de piada entre os colegas, sendo chamado nos bastidores de “presidente do Amapá”. A avaliação é a de que Alcolumbre “abandonou o Senado para cuidar só do Amapá”, principalmente em meio à pandemia da Covid-19, quando mergulhou na campanha do irmão, Josiel, candidato a prefeito de Macapá (o primeiro turno será no próximo domingo), e, mais recentemente, no problema do apagão elétrico.
Outro ponto que faz até os mais experientes e velhos caciques fazerem cara feia é a alegada “pouca transparência dos gastos da Presidência do Senado”. Atualmente, as despesas de Alcolumbre estão todas ocultadas, pois estão misturadas ou diluídas na conta da Presidência. Alguns senadores dizem que, sem acesso a esses gastos, abre-se espaço para imaginar que o senador do Amapá esteja usando recursos do Senado para “promover a si”, entre outras suspeitas. Não é possível acompanhar os gastos da Presidência nem mesmo no Portal da Transparência do Senado, onde as despesas de todos os outros 80 senadores e das demais unidades orçamentárias da Casa estão acessíveis.
A liberação de R$ 200 mil para a diretora-geral do Senado, Ilana Trombka, fazer seu doutorado na FGV, sem deixar de receber o salário mensal de R$ 44,6 mil, provocou particular espanto em alguns senadores.
“O Davi é omisso, passou a cuidar somente do Amapá e se esqueceu do Senado. Não foram poucas as vezes em que cancelou sessões e adiou votações para cuidar de assuntos particulares”, desabafou um senador, pedindo reserva, mas garantindo que falava “em nome de muitos”.
*O Antagonista