No primeiro turno, 32,8% dos aptos a votar não foram às urnas
RIO – Em seu último evento de campanha antes da votação em segundo turno para a Prefeitura do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (DEM) apostou, mais uma vez, na rejeição do adversário, Marcelo Crivella (Republicanos), para pedir que seus apoiadores não deixem de ir às urnas no domingo e busquem, até o fim deste sábado, convencer eleitores cariocas a não votarem pela reeleição do prefeito. O apelo tem como pano de fundo os resultados das pesquisas de intenção de voto, nas quais Paes tem mantido o favoritismo (com 55% da preferência, de acordo com pesquisa Datafolha de sexta-feira), e também o índice de abstenção no primeiro turno, quando 32,8% dos aptos a votar não foram às urnas.
—A eleição de amanhã não é mais sobre Eduardo Paes e Nilton Caldeira (do PL, candidato a vice) para vencer. A gente representa muito mais nessa campanha: o conjunto de forças sociais e políticas de toda a cidade, de direita, esquerda e centro que amam o Rio e querem dar um basta nesse governo omisso, incompetente e mentiroso do Crivella — discursou Paes, completando em seguida: — Essa candidatura significa a libertação do Rio de Janeiro, que tem que ser feita com muita contundência. A gente precisa dar um sinal nas urnas amanhã. Não parem até meia-noite de hoje, respeitando a legislação eleitoral, de pedir votos e de argumentar. Não serão tempos fáceis, não vamos fazer milagre, mas vamos colocar essa cidade para funcionar de novo.
O evento de Paes aconteceu na quadra da escola de samba Mocidade, em Padre Miguel, na Zona Oeste do Rio. Apelidado de “Maracanã do Samba”, o local tem capacidade para cerca de 10 mil pessoas e, ainda que em número muito distante da lotação máxima, reuniu centenas de apoiadores do ex-prefeito. A chegada do público numeroso causou breve lentidão no trânsito da Avenida Brasil, via em que a quadra está localizada. No estacionamento do local, junto a dezenas de carros, cabos eleitorais abusaram da criatividade. Na recepção ao candidato, além das passistas da Mocidade trajadas com fantasias carnavalescas, apoiadores ostentavam bandeiras da campanha montados numa motocicleta e até em cavalos.
Ao chegar para o encontro com a militância e os aliados políticos, Paes conversou com a imprensa e se disse “otimista” com o caminho trilhado nos últimos dois meses. Ele manteve o tom de falas anteriores ao afirmar que a eleição será “histórica” e ao criticar o adversário pela ligação com a Igreja Universal do Reino de Deus, da qual Crivella é bispo licenciado:
— Crivella não consegue entender os cariocas. A administração dele ficou marcada por isso. Ele só consegue falar para o grupo dele, o nicho dele, o tio dele (o bispo Edir Macedo, da Universal), o grupo religioso do tio dele. Ele não consegue entender a cidade a diversidade dessa cidade. É um prefeito preconceituoso e o Rio é uma cidade muito diversa para ter um prefeito assim. O prefeito do Rio tem que ser o prefeito de todos, como eu fui no primeiro e no segundo mandato. Respeitar a orientação sexual das pessoas, a cor da pele, a religião. Esse tipo de preconceito não cabe mais no Rio de Janeiro. É uma cidade muito mais diversa do que esse nicho chamado Marcelo Crivella — disse Paes, em meio à queima de fogos providenciada por apoiadores.
‘Prefeito preconceituoso’
Apesar da preocupação com a Covid-19 na porta do evento, com distribuição de álcool em gel para os presentes, houve episódios de aglomeração na chegada do candidato e durante a permanência dele no palco da agremiação. Paes estava ladeado pelo candidato a vice, Caldeira, pelo presidente da Câmara Municipal do Rio, Jorge Felippe (DEM) e outros vereadores que integram sua base de apoio. Também estiveram presentes os senadores Romário (Podemos) e Portinho (PSD), suplente de Arolde de Oliveira, morto em outubro em decorrência de uma complicação do coronavírus. No time de parlamentares, estava ainda o deputado federal Pedro Paulo (DEM).
A assessoria do candidato Marcelo Crivella foi procurada pela reportagem para comentar as acusações de Paes, mas não se manifestou até o fechamento dessa reportagem.
Fonte: O GLOBO