*Arnaldo Niskier
Tive a honra, que me foi concedida pelo presidente Joper Padrão do Espírito
Santo, de fazer a primeira palestra da recém-criada Academia Brasileira Rotária de
Letras da Cidade do Rio de Janeiro (ABROL). Ao falar sobre a cultura do nosso Estado,
não pude deixar de fazer inicialmente uma saudação ao caricaturista Lan (Lanfranco
Vaseli), que acaba de falecer, na cidade de Petrópolis. Foi um emérito cultor do nosso
samba, do futebol e das curvas femininas, todas parecidas com alguns acidentes
geográficos do Rio de Janeiro.
Sobre o tema que me foi proposto, disse que caminhamos para uma
renovação conceitual. Vem aí a existência de uma cultura digital, com todos os seus
naturais e esperados desdobramentos.
O que não impede que se afirme, com absoluta convicção, que devemos
tomar por base a existência e a programação do Teatro Municipal. Hoje, é certo, não
estamos com o mesmo vigor de tempos atrás. Quando dirigi, no período 79 a 83, a
Secretaria de Estado de Educação e Cultura foi possível montar 23 óperas em quatro
anos, com casas sempre lotadas. Isso, hoje, é um sonho improvável.
Há uma particularidade: tínhamos total apoio do governador Chagas Freitas
em todos os empreendimentos. Ele até adiantava os cachês dos artistas internacionais.
Hoje falta dinheiro para tudo.
Voltou a faltar recursos para a operação da Escola de Teatro Martins Pena. O
Teatro Villa-Lobos, construído por Adolpho Bloch, sofreu há anos um lamentável
incêndio. Não foi reconstruído até agora, numa lamentável prova de descaso. A gente
passa por lá e tem até vontade de chorar.
Temos saudade das máquinas de escrever e do Powerpoint que fazia o maior
sucesso nas conferências de então. Queremos revigorar os museus da cidade, entre os
quais merecem destaque o Museu Histórico, o Museu Nacional e pode ser citada a
Biblioteca Nacional, com toda a sua falta de recursos. O Rio de Janeiro, embora tenha
perdido a condição de capital política, jamais deixou de ser a capital cultural do país.
Entre as instituições das quais temos orgulho, podemos citar o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, durante muitos anos presidido pelo acadêmico Arno Wehling. É essa tradição que devemos manter e se possível até ampliar.
*Arnaldo Niskier, da Academia Brasileira de Letras.