BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Ministério da Saúde anunciou nesta quinta-feira (19) que pretende lançar ainda em dezembro deste ano uma campanha “para dar segurança à população” sobre a eficácia de vacinas que podem ser usadas pela pasta contra a Covid-19 no futuro.
Segundo o secretário de vigilância em saúde, Arnaldo Correia, o objetivo da estratégia é informar sobre o processo de produção e aprovação de vacinas. A medida ocorre num momento de queda da adesão à vacinação contra a Covid-19, como mostrou pesquisa Datafolha realizada com eleitores de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife no início de novembro. O apoio à imunização obrigatória também caiu nesses locais.
Declarações frequentes do presidente Jair Bolsonaro que levantam dúvidas sobre a segurança e a obrigatoriedade das vacinas também têm sido vistas com preocupação por especialistas devido ao efeito que podem causar.
De acordo com Correia, a campanha de dezembro deve ser apenas a primeira etapa. A segunda deve ocorrer assim que houver a definição do total de doses, datas de oferta e população a ser vacinada.
“Esse ministério tem um compromisso sério com a população brasileira de só vacinarmos quando tivermos certeza de que estamos diante de uma vacina registrada com garantia de eficácia”, disse ele. “Até termos essa vacina, cabe a cada um de nós brasileiros mantermos essa orientação [de medidas de prevenção] porque ainda estamos vivendo esse processo pandêmico.”
Uma análise preliminar feita pelo ministério aponta idosos, pessoas com doenças associadas e profissionais de saúde como os possíveis públicos prioritários para iniciar a vacinação. A definição, porém, vai depender do perfil das vacinas que forem aprovadas, segundo o secretário.
O ministério tem feito reuniões com diferentes empresas que estão à frente do desenvolvimento de vacinas contra a Covid.
Nos últimos três dias, a pasta teve encontros com Pfizer, Janssen, Moderna e representantes do Fundo Direto de Investimento da Rússia. Uma quinta reunião está prevista para ocorrer nesta sexta-feira (20) com a Bharat, que responde pelo desenvolvimento da vacina indiana Covaxin.
Segundo o secretário-executivo do ministério, Elcio Franco, a pasta busca firmar protocolos de intenções para possível aquisição de doses. Ele descartou, no entanto, a possibilidade de compra imediata de vacinas.
“A aquisição da vacina só pode se dar conforme a legislação, e só posso comprar o que existe. E só existe se for registrada na Anvisa”, disse Franco, repetindo discurso de Bolsonaro. “Isso deve decorrer a partir dessas reuniões serão memorandos de entendimento não vinculantes para possiveis aquisições.”
Segundo ele, entre os pontos a serem observados estão as condições logísticas e de armazenamento. “Baseado nesses dados, pretendemos iniciar protocolos de intenção não vinculantes, e só podemos assinar contratos, efetuar pagamentos e adquirir vacinas após registro na Anvisa”, disse.
Apesar de informar que não fará compra antes da etapa de registro, a pasta já liberou R$ 1,9 bilhão em um acordo de encomenda tecnológica para obter, após a conclusão dos testes, 100 milhões de doses da vacina da AstraZeneca.
O governo também já possui um acordo para obter 40 milhões de doses por meio do consórcio Covax Facility, vinculado à OMS (Organização Mundial de Saúde), que monitora estudos de nove potenciais vacinas contra a Covid.
‘SEGUNDA ONDA’
Em um momento em que diversas capitais do país já apontam aumento de internações pela Covid e o risco de uma “segunda onda”, o secretário de vigilância da pasta, Arnaldo Correia, disse que o ministério ainda não tem dados que permitam avaliar esse cenário.
A justificativa é que a tentativa de ataque hacker ocorrida nos últimos dias ainda gera instabilidade em sistemas da pasta. “Não temos dados para afirmar que estamos vivendo uma segunda onda ou mesmo um recrudescimento dos casos no país”, diz. “Como houve o ataque hacker que causou instablidade, ainda não temos a plenitude desses dados. Fica difícil de fazer predição se está aumentando ou diminuindo.”
Questionado sobre as medidas a serem recomendadas, o secretário-executivo da pasta, Elcio Franco, evitou falar em isolamento, na contramão de especialistas, e defendeu a necessidade do que chamou de “novo normal” com uso de medidas de prevenção, como a higiene das mãos.
“Temos que aprender a viver um novo normal e adequar isso ao nosso cotidiano e à nossa economia. Mesmo que venhamos a obter a vacina, esses cuidados não devem ser deixados em segundo plano”, disse.
A declaração ocorre no mesmo dia em que secretários de saúde enviaram um ofício ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, alertando para a “iminência de uma segunda onda da Covid-19” no país e pedindo repasse de R$ 3 bilhões para reforço da assistência hospitalar, entre outras medidas. O ofício é assinado por Carlos Lula, presidente do Conass, o conselho que reúne os gestores estaduais de saúde.
No documento, o grupo afirma que “o novo aumento de casos no mundo poderá levar a nova escassez de testes, insumos e medicamentos no mercado internacional, sendo necessário antecipar-se em medidas rápidas e concretas para proteger o abastecimento destes produtos ao SUS”.
“Qualquer expressão de negação do risco de uma nova expansão da doença em território nacional poderá levar a um cenário de tragédia epidemiológica de proporções piores aos vividos na primeira expansão de casos. As vidas perdidas até aqui para o coronavírus não podem ser ignoradas”, informa o documento.