Roberto Albergaria (in memoriam)
Antropólogo
Na minha enroscada memória, Cid José Teixeira Cavalcante foi o melhor professor que tive no atribulado curso de História que fiz em minha finada juventude – naqueles efervescentes tempos de militância política e agitação contracultural dos anos 70…
Uma figura que, por sua inteligência, independência e inimitável estilo pessoal, muito marcou a minha formação, ainda que indireta e meio retrospectivamente. Alguém que conseguia associar uma imensa erudição a uma fertilíssima imaginação historiográfica (e histeriofônica)!). Tudo isso envolvido por um arteiríssimo senso de humor (tentação permanente de escarafunchar o “outro lado” da Verdade, arte sutil de ir se esgueirando cá e lá dos enfadonhos fardos das conveniências acadêmicas e outras, arrevesada solução de insolúvel…).
Por sua finura de espírito, manhos jovialidade e saboroso saber, contrastava com a média ensinante ambiente – em particular com a mediocridade beletrística de uns, com o antolhado burocratismo de outros, com a arrogância cientificista de muitos (esses melindrosos especialistas que desde então vêm dominando a cena ufbaiana, tão estreitamente, tão pesadamente…).
Uma língua sempre bem-falante – e deliciosamente picante pelas beiradas (o resto é intriga dos maledicentes invejosos!).
Um educador eficaz sem tricas pedagogistas, um sábio sério sem pode nem ranhetice de quem procuro imitar a “lição de história” recebida, tanto quanto possível… Mestre argucioso cuja imagem tanto me anima – sobretudo agora, quando eu, mais maduro e aquietado, passo a me identificar crscentemente àquele senhor risonho, bigodudo, dono de um vozeirão inimitável, com quem topei na minha desgarrada mocidade, antanho…
Caprichosa fortuna!
*Texto escrito para a sessão solene “Obrigado, Professor; Obrigada, professora”, da Assembleia Legislativa da Bahia, realizada em 11/11/1998, por iniciativa da Deputada Maria José Rocha Lima – Zezé.