*Arnaldo Niskier
Ainda bem que há pessoas com boa memória. Três delas lembraram
agora que há 40 anos escrevi o livro infantil “A Constituinte da Nova Floresta”, Editora
Nova Fronteira, com belíssimas ilustrações do genial Maurício de Sousa. Quando lhe
mostrei o texto, ele me disse: “Se eu me divertir com a sua leitura, farei os desenhos.”
Foi o que aconteceu – e o livro tem mais de 10 edições.
Idinha Seabra, Gilda Milman e Ruth Niskier elogiaram a obra, que é
uma defesa candente do nosso meio ambiente. Logo no primeiro capítulo, veio a
afirmação objetiva: “Estão destruindo a nossa floresta!” Reparem que a denúncia das
queimadas vem de longe.
Os bichos não se conformaram e propuseram a realização de uma
Constituinte, para que fossem tomadas as providências cabíveis. A Assembleia foi
presidida pelo cachorro Guima e as críticas dirigidas ao Cavalo Manhoso, na época o
presidente. Tudo isso é publicado no “Diário da Floresta”, que combatia a venda ilegal
de madeiras da floresta. Reparem que essa história é mesmo antiga. Tudo foi
transformado num musical, que fez o maior sucesso, no Teatro da Barra.
Numa clareira da floresta, todas as noites, reuniam-se os representantes
dos partidos existentes: PDS(Partido Democrático da Selva), PMDB(Partido da Mata
Democrática dos Bichos), PFL(Partido da Floresta Liberal) e o PT(Partido do Tatu),
além do PSB(Partido Socialista dos Bichos). A discussão era enorme e havia um racha
entre as formigas operárias e as abelhas operárias. Os verdes atrasaram no registro do
seu Partido. Seus membros ficaram azuis de raiva.
Com a renúncia do Presidente, foi instaurada a Nova Floresta. Nilda
Girafa pediu a palavra, mas ninguém entendeu nada do que ela falava. A tchurma
preferiu ouvir o recital do conjunto “Barões da Selva”. Os macacos pediram a criação
da Bananobrás, o que acabou acontecendo. O macaco Simão deu bananas prá todo
mundo. Lula Barbuda fez um tremendo discurso e a sessão foi iniciada. A floresta
passou a ter uma nova Constituinte, com a aprovação do artigo mais importante: “O
amparo aos bichos é dever de todos.”
Com a Nova Constituinte foi possível preservar convenientemente a
floresta. E todos viveram felizes para sempre.
*Arnaldo Niskier, da Academia Brasileira de Letras.