Usha Velasco: 30 anos de carreira celebrados em site

Artista visual lança, nesta sexta-feira (13), site que celebra seus 30 anos de carreira. Séries se destacam pelo olhar intimista, aliado à poesia

Brasília, 11/11/2020 – Um olhar, o tempo, uma foto. E surge a inspiração. Foi assim, durante 30 anos, que a artista visual Usha Velasco construiu uma extensa e premiada produção. Foram sete exposições individuais, participou de mais de 30 coletivas, mas sua produção ainda não havia sido apresentada em conjunto. Para celebrar essa data, Usha lança, nesta sexta-feira (13), o site Usha Velasco – Retrospectiva 1990/2020 (http://www.ushavelasco.com.br/), um projeto com catálogo online com 240 obras, divididas em 16 séries.

Em sua obra, Usha Velasco utiliza a fotografia de diversas formas. Propõe reflexões, intervenções urbanas e contribui para enriquecer o repertório visual e criativo do público, promovendo o cenário cultural do Distrito Federal – onde se desenvolveu toda a produção da artista. Usha usa a fotografia como uma opção de linguagem e faz dela sua motivação diária. Seja retratando cenas intimistas e solitárias durante a pandemia ou transmutando o passado e o presente em um só retrato.

Em 2010 a artista recebeu o Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia, com o projeto “O olhar no tempo: encontros e trânsitos”. As fotografias antigas coladas nas ruas de Brasília tiveram um grande impacto no imaginário do público, provocando inquietações a respeito do tema principal da trajetória artística de Usha: o tempo. O projeto foi composto por grandes cartazes lambe-lambe que reproduzem antigas fotos de família, com tamanho próximo da medida real dos retratados, “invadindo” o cotidiano de quem passava pelo local. As memórias de família e da infância chegaram às pessoas que passavam pela rodoviária do Plano Piloto de Brasília e espaços como o Conic e a SQN 415.

Usha Velasco considera que proporcionar esse tipo de inquietação e promover reflexão por meio de imagens faz parte do papel do artista visual. “Há poemas ou trechos de poemas no catálogo, incluindo relatos pessoais sobre o meu processo de criação”, explica.

A obra da artista é muito bem descrita por dois textos dos críticos e curadores André Vilaron e Marília Panitz, adicionando um importante diferencial teórico ao projeto. “Em ‘As luzes da cidade’ ela visita as marcas deixadas por Athos Bulcão (e, incidentalmente, Volpi) na cidade onde vive. Nada a ver com documentação da obra. São os padrões emblemáticos dos artistas que comparecem em uma operação de superposição de duas fotos de lugares comuns, onde o registro que encobre o outro vem recortado pelos padrões de azulejos e quadros, deixando ver algo do que está embaixo”, discorre Marília Panitz.

André Vilaron escreve: “Liberdade, ousadia e convicção é o que Usha buscará em sua produção artística, é o que balizará seus trabalhos e lhes dará coerência. Por meio de tramas e entrelaçamentos, sua intuição faz com que cada série se atualize a partir do que já foi realizado e aponte novas reflexões. No limite, seria possível pensar que estas trazem, de alguma forma, as mesmas proposições e se apresentam não como verdades e sim, a partir de um olhar libertário, como perguntas, muitas perguntas.”

Em séries como ‘Túnel do tempo’ (1998), ‘Silêncio’ (2007), ‘[ aqui ]’ (2014-2017) e ‘Minas não há mais’ (2018), a artista utiliza recursos de colagem, apropriação de imagens de arquivo e apresentação de dípticos, trípticos e múltiplos (imagens vistas de modo independente ou agrupadas). Usha recorre também à poesia para estabelecer um diálogo com sua produção artística. “É como se sua fotografia guardasse um desejo de poesia”, afirma André Vilaron.

Na série “Retratos do artista quando coisa”, seu interesse está nos detalhes, nas coisas abandonadas e ínfimas, como na poesia. A sensação de sua presença molda as imagens, de forma que é quase possível escutá-la no silêncio. No entanto, ela não se revela por completo – é percebida na minúcia, como um vestígio. “Meu processo criativo é pura sombra”, diz.

O projeto recebeu recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC).