O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) planeja promover um choque de pragmatismo na segunda metade de seu mandato na tentativa de aumentar as chances de uma reeleição em 2022.
O projeto, elaborado com a ajuda de integrantes da Esplanada dos Ministérios, é fidelizar a aliança com o centrão, abrindo mais espaço para o bloco partidário no primeiro escalão do governo.
O objetivo é, na prática, garantir alianças futuras para a eleição presidencial e ampliar a base de apoio no Congresso para a aprovação de reformas governistas.
O presidente sinalizou a integrantes da equipe econômica que pretende também elevar a fatia de investimentos em obras federais.
A ideia é que o aumento dos gastos públicos turbine a agenda de viagens presidenciais com anúncios e inaugurações pelo país.
Em conversa recente, assessores do presidente o aconselharam a colocar o projeto em prática já em fevereiro, com a realização de uma reforma ministerial.
O centrão já foi contemplado com postos em autarquias federais e órgãos como o FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), além do segundo escalão de ministérios.
O grupo é composto por partidos como Progressistas, PL, Republicanos, Avante e Solidariedade. O PSD, que vota alinhado a esse conjunto de congressistas, diz que não faz parte do bloco.
O Palácio do Planalto discute oferecer para o bloco partidário pelo menos mais um posto no primeiro escalão. Hoje, o grupo já detém o comando do Ministério das Comunicações, controlado pelo deputado federal Fabio Faria (PSD-RN).
A indicação foi considerada uma escolha pessoal do presidente, mas irritou a cúpula dos outros partidos aliados ao governo.
Por isso, na opinião de aliados do presidente da República, o ideal é que fossem abertos dois postos para o bloco partidário, um para o PP e outro para o PL. Os dois partidos são os que detêm as maiores bancadas no bloco do centrão, com 40 e 41 deputados respectivamente.
Uma das opções avaliadas é oferecer o comando da pasta da Cidadania, hoje nas mãos de Onyx Lorenzoni, do DEM. O aliado de primeira hora de Bolsonaro, que no início do ano foi retirado da Casa Civil, perdeu prestígio.
Segundo assessores palacianos, o desempenho do ministro à frente da pasta não tem agradado Bolsonaro, para quem a permanência de Onyx no cargo também não agrega apoio político, já que ele não é próximo do comando do DEM e sua indicação não foi considerada partidária.
Bolsonaro também cogita fazer uma mudança no Meio Ambiente. Na tentativa de arrefecer a imagem negativa do ministro Ricardo Salles na condução da política ambiental, ele avalia deslocá-lo para o Turismo, o que abriria mais um posto para os novos aliados.
Apesar de Salles ter entrado na sexta-feira (23) em embate público com o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, o presidente indicou a assessores presidenciais que não pretende retirá-lo do governo, mas também não descarta remanejá-lo de posto.
No Palácio do Planalto, assessores do presidente também mencionam possibilidade de troca na pasta da Saúde. Caso o general Eduardo Pazuello decida deixar o posto, a vaga poderia ser ocupada pelo líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR).
O deputado foi ministro da Saúde de 2016 a 2018, no governo Michel Temer (MDB). Sua gestão é elogiada pela atual cúpula militar, para quem ele foi eficiente na economia de recursos e na atualização de portarias.
Em julho, quando ainda era interino, Pazuello disse a Bolsonaro que deixaria a pasta após o arrefecimento da pandemia da Covid-19. Hoje, no entanto, assessores da pasta dizem que o militar não pretende sair do posto tão cedo.
Outra possibilidade é ocorrer o desmembramento do Ministério da Economia e a recriação das pastas da Indústria e do Trabalho. Essa mudança desagrada fortemente o ministro Paulo Guedes (Economia).
Embora as alterações na Esplanada não estejam fechadas, o consenso entre ministros é que Bolsonaro fará uma reavaliação do governo e da equipe para analisar o que está funcionando e consolidar a postura pragmática para 2022.
Para consolidar a mudança, na opinião de auxiliares palacianos, o presidente precisa abandonar o embate com Congresso e Supremo.
Nesta segunda-feira (26), Bolsonaro, no entanto, voltou a entrar em conflito com o STF (Supremo Tribunal Federal) ao defender que magistrados não decidam sobre a obrigatoriedade da vacina contra o novo coronavírus.
Além disso, a liberação de mais verbas para obras está no cálculo de Bolsonaro em um esforço para ele capitalizar com os investimentos, assim como seus aliados políticos, apesar das dificuldades com o Orçamento.
A criação do Renda Cidadã é também uma forma de agradar a classe política e conseguir projeção eleitoral.
Segundo aliados, a nova configuração da Esplanada, porém, dependerá do resultado da eleição para o comando da Câmara dos Deputados, em fevereiro de 2021.
A ideia é que o presidente aproveite as mudanças para fazer gestos políticos em busca de apoio.
O xadrez depende em certa medida de qual ala dos congressistas vencerá a disputa. De um lado, Arthur Lira (AL), líder do Progressistas, desponta como o candidato do chamado centrão.
Lira é hoje o nome com mais respaldo dentro do governo e do próprio presidente, que já expressou a pessoas próximas que o deputado é o favorito.
Do outro lado, há o grupo de Rodrigo Maia (DEM-RJ), o atual presidente da Câmara. Maia já rechaçou em mais de uma ocasião a possibilidade de disputar a recondução ao cargo.
Ele está no comando da Casa pela terceira vez, e a Constituição veda a reeleição em uma mesma legislatura –período de quatro anos entre uma eleição e outra.
O STF, no entanto, discute uma ação que pode abrir caminho para a recondução de Maia e Davi Alcolumbre (DEM-AP), que preside o Senado.
Para correligionários do deputado, Maia ainda pode querer disputar a presidência outra vez. Caso isso não ocorra, deverá respaldar um nome que não seja do grupo de Lira.
O presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), também pré-candidato, é considerado um meio-termo porque flerta com apoios de ambos os grupos.
Integrantes de partidos do centrão tentam construir um acordo entre os dois lados para evitar a disputa.
Nesse cenário, membros do governo chegaram a acenar e testar a candidatura da ministra Tereza Cristina (Agricultura), deputada licenciada do DEM, para avaliar se seu nome conseguiria obter consenso entre as partes.