Cientistas do Brasil e da China não conseguiram estabelecer comunicação com o satélite Cbers-3, lançado na madrugada desta segunda-feira (9) da base chinesa de Taiyuan, a 760 km de Pequim, e já trabalham com a possibilidade de perda do equipamento, que custou R$ 160 milhões ao governo brasileiro.
De acordo com José Carlos Neves Epiphanio, coordenador de aplicações do Programa Cbers, uma equipe de funcionários do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) acompanhou o lançamento de São José dos Campos (SP) até 3h.
Ele disse que o foguete Longa Marcha 4B, veículo lançador de satélites, decolou normalmente e todos os estágios para liberação do equipamento na órbita tinham funcionado, incluindo o mais crítico, que é a abertura dos painéis solares – essencial para manter a bateria do Cbers-3 carregada.
Mas, durante a passagem do satélite pela Antártica, Epiphanio disse que o equipamento “aparentemente” apresentou problemas de altitude, deixando em alerta as equipes que acompanhavam o satélite de recursos terrestres no Brasil e na China, que tentaram rastreá-lo.
A unidade do Inpe de Cuiabá (MT), responsável por receber todos os dados do Cbers, tentou detectar alguma “anomalia”, termo utilizado pelos pesquisadores para definir possível perda do equipamento ou o extravio da órbita, mas não conseguiram se comunicar com o satélite.
Quando o satélite passou pela China, os cientistas da Academia Chinesa de Tecnologia Espacial (Cast, na sigla em inglês) também não leram quaisquer sinais do Cbers-3.
A informação é que não conseguiram ter o sinal do satélite, embora ele esteja em órbita. Por enquanto, não sabemos se o perdemos. Mas a chance de ter sucesso [no funcionamento do Cbers-3] é baixa para essas situações. Posso falar pelo que vi no passado”, explicou Epiphanio .
A previsão é que o equipamento sino-brasileiro passe sobre Cuiabá por volta do meio-dia. Neste horário, segundo Epiphanio, os pesquisadores do Brasil vão tentar descobrir o que pode ter acontecido e confirmar se a missão deu certo ou não.
O lançamento aconteceu três anos após a data prevista inicialmente pelo Inpe, que desenvolveu o projeto em parceria com a Cast.
O Cbers-3 tem quatro câmeras, de diferentes resoluções e capacidade de captação, responsáveis por coletar imagens com maior qualidade de atividades agrícolas e contribuir com o monitoramento da Amazônia, auxiliando no combate de possíveis desmatamentos ilegais e queimadas – foco de projetos ligados também ao Ministério do Meio Ambiente, como o Prodes e o Deter.
Dificuldades para criar novas tecnologias espaciais, consideradas complexas, atrasaram o programa, segundo o diretor do Inpe, Leonel Perondi, que está no país asiático e acompanhou o envio do satélite ao espaço.
O objetivo do Cbers-3 é preencher um vácuo deixado pelo Cbers-2B, que encerrou suas atividades em 2010. Desde então, o programa sino-brasileiro ficou sem equipamentos para fornecer imagens aos países parceiros. Também foram lançados o Cbers-1 e Cbers-2, que já não funcionam.
O Brasil tem 50% de participação no novo equipamento. Antes, a participação no desenvolvimento de satélites com a China era de 30%.
(foto: ilustrativa)