Mais uma vez na contramão de vários países europeus, que estão apertando suas restrições para conter a transmissão do novo coronavírus, a Suécia anunciou nesta quarta (22) que os idosos não precisam mais se autoisolar.
A nova orientação foi tomada porque pesquisas do governo mostraram riscos crescentes à saúde mental e física dessa faixa da população, afirmou a agência responsável pelo combate à Covid-19.
Segundo Sara Fritzell, pesquisadora da Agência Sueca de Saúde Pública, o relatório sobre a situação dos idosos identificou “frustração e percepção de discriminação, bem como uma clara exclusão quando se trata de oportunidades de participação em atividades”.
As análises também indicaram que as pessoas já vulneráveis se sentiam pior do que antes, com elevação da ansiedade, principalmente entre aqueles que têm um diagnóstico psiquiátrico. Servidores relatam que receberam mais ligações de pessoas que acham que não têm mais por que viver.
Há também uma necessidade reprimida de cuidados físicos desse grupo, segundo a agência sueca.
Segundo Johan Carlson, diretor-geral da instituição, ainda que o autoisolamento dos grupos de risco tenha tido efeito, “não é razoável colocar uma responsabilidade tão grande nos grupos de risco quando vemos efeitos negativos tão grandes”.
“É importante que todos assumam a responsabilidade quando o conselho geral é alterado para pessoas com 70 anos ou mais”, afirma o título do comunicado, publicado no site da Agência de Saúde Pública da Suécia.
“A pandemia ainda não acabou e é crucial que todos na população sigam as diretrizes gerais, para manter a propagação da infecção em um nível baixo”, diz o governo.
O país se destacou no noticiário desde o começo da pandemia por não ter imposto um confinamento geral, embora recomendasse distanciamento físico, uso de máscaras e higiene das mãos.
Entre os argumentos da Suécia para evitar as restrições mais severas estava a legislação do país (que impede esse tipo de medida), a baixa densidade populacional (que reduz o número de encontros entre as pessoas), o fato de que metade dos suecos mora sozinha (evitando a transmissão doméstica) e o alto grau de adesão da população às recomendações do governo.
Apesar de o “modelo sueco” ter sido usado como símbolo dos críticos do confinamento, o país não foi o único a não recorrer a quarentenas. O Japão e Taiwan também controlaram a transmissão da doença priorizando testes massivos, rastreamento e isolamento dos contatos.
A estratégia do país também não foi o desastre previsto por seus críticos. Os números de casos e mortes em relação à população se mostraram equivalentes aos de alguns países que impuseram quarentenas, como França, Reino Unido, Espanha e Itália.
Mas ambos os números são maiores que os da Alemanha ou os da vizinha Noruega, país com condições semelhantes às duas.
Como outros países europeus, a Suécia registrou um grande número de mortos em asilos nos primeiros meses da pandemia, no que foi considerado um dos grandes erros da política de saúde anti-Covid-19 pelo epidemiologista responsável no país, Aders Tegnell.
Em Estocolmo, 75% das 101 casas de idosos, maiores de 70 anos, foram atingidas, sendo 90% dos 3.679 mortos registrados até maio. Desde então, o país adotou regras mais rígidas de prevenção nessas instituições, controlando o problema.
Em abril, maiores de 70 anos e outros grupos de risco fora de instituições também foram orientados a limitar contatos e manter distância de outras pessoas, para prevenir mortes nessa faixa etária, onde a chance de desenvolver casos graves de Covid-19 é muito mais alta.
Segundo a autoridade de saúde sueca, o autoisolamento imposto aos idosos reduziu o número de mortes no país, mas agora há “uma capacidade completamente diferente para realizar testes e rastreamento de infecção”, e a pressão sobre os cuidados de saúde também se reduziu.
O governo sueco afirma também que baseou sua decisão em resultados de pesquisas internacionais, análises próprias de pesquisas suecas e dados epidemiológicos e reuniões com organizações de aposentados e da sociedade civil.
Em comunicado específico para os idosos, a agência sueca afirma que “é importante lembrar que a idade é o principal fator de risco para doenças graves e para morte como resultado de Covid-19”.
Além das recomendações gerais -mantenha distância, lave as mãos e fique em casa quando estiver doente– a Suécia sugere aos grupos de risco que mantenham distância dos outros em locais públicos, prefiram fazer compras em horários menos movimentados, evitem festas, funerais, batismos e casamentos e evitem transporte público, principalmente na hora do rush.
A agência também recomenda que eles saiam ao ar livre, tentem manter rotinas regulares de sono, atividade física e refeições e não faltem a consultas médicas.