Quase um ano após a renúncia do presidente Evo Morales, os bolivianos votam neste domingo, 18, para escolher um novo presidente. Em meio a um clima polarizado, o pleito acontece sob a dúvida de se novas convulsões sociais serão registradas, principalmente após a definição de última hora do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), decidiu suspender a contagem preliminar de votos.
Pela primeira vez em duas décadas, Evo Morales não está na disputa eleitoral. O ex-presidente deixou o cargo após vencer as eleições de 2019, marcadas por denúncias de fraude, que o conduziriam para seu quarto mandato consecutivo.
“Não sei ao certo o que vai acontecer, tenho medo que o pior aconteça. Há comentários de políticos que nos assustam”, disse Virginia Luna, de 41 anos, no colégio eleitoral Agustín Aspiazu em La Paz, onde chegou muito cedo para votar.
Há um ano, o país enfrentou violentos confrontos nas ruas após o primeiro turno das eleições, em 20 de outubro de 2019.
Neste país – que possui 41% de população indígena – desde o amanhecer as pessoas faziam fila, sentadas e cumprindo o distanciamento social, como é o exemplo do município de Huarina, situado às margens do Lago Titikaka, a 70 km de La Paz.
Para os 7,3 milhões de eleitores, os centros eleitorais abriram às 08h, horário local (09h, no horário de Brasília), e vão encerrar as atividades às 17h (18h no Brasil) e estão sob guarda militar e policial, assim como cumprem medidas sanitárias adotadas para evitar a propagação do coronavírus. Os primeiros resultados devem ser divulgados uma hora depois.
Os candidatos favoritos são o economista Luis Arce, do Movimento ao Socialismo de Morales (MAS), e o ex-presidente centrista Carlos Mesa, da Comunidade Ciudadana, segundo colocado nas eleições de 2019.
Responsável pelo “milagre” econômico de Morales (2006-2019), é muito provável que Arce vá ao segundo turno com Mesa. Por causa da pandemia, a campanha foi realizada principalmente nas redes sociais, embora tenham ocorrido alguns confrontos isolados nas ruas entre militantes pró e anti-Evo.
“É o fim de um ciclo do governo de Evo Morales e da crise política. Espera-se começar um processo de fortalecimento das instituições”, observou o cientista político Carlos Cordero, da Universidade Católica Boliviana, em comentário à AFP.
Arce garantiu neste domingo que seu partido, o Movimento pelo Socialismo (MAS), chegará ao poder na Bolívia por meios democráticos e não pelas armas, após criticar a suspensão da divulgação dos resultados preliminares pela Justiça Eleitoral.
“Não tomamos o poder com armas, tomamos o poder por essa via democrática”, afirmou Arce, após votar em um colégio eleitoral na área central de La Paz.
O país andino vive a maior crise econômica em quase 40 anos, com previsão de retração de 6,2% do PIB em 2020.
As eleições também terminarão as atividades do governo de transição da presidente interina de direita, Jeanine Áñez, que deixou a corrida eleitoral após ser criticada por sua gestão da pandemia, com mais de 8.400 mortos e 130 mil casos.