Maria José Rocha Lima*
A professora Maria do Carmo Chastinet, Do Carmo ou Carminha, nomes conhecidos por mim e pela Bahia inteira, nas décadas de 80 e 90, quando atuamos juntas no movimento de professores, é uma das professoras marcantes na minha vida sindical e política. Uma militante leal e dedicada, conhecedora da história da Associação dos Professores e foliã do Bloco Filó e Sofia, fundado por estudantes de Filosofia da Universidade Federal da Bahia. Por isso mesmo, Carminha tornou-se uma professora importante na reconstrução da Associação dos Professores Licenciados da Bahia – APLB.
Embora a APLB fosse desde a sua criação uma associação de caráter associativo e de defesa dos professores licenciados, até o finalzinho da década de 70 funcionava com muito poucos filiados, quase como uma confraria de filósofos, intelectuais, democratas e socialistas, que resistiram ao regime militar, com pouco mais de 1.000 sócios. No final da década de 70 e início da década de 80, estávamos diante de uma nova situação política no país, com a transição democrática, novos quadros políticos surgiram, como nós, e entendemos que a entidade exigia uma nova estrutura e nova forma de atuação. Elaboramos um projeto intitulado Muda APLB, que tinha como objetivo expandir a associação, como uma organização de base, ampliando a sua atuação para filiar os professores dos mais diversos níveis de formação, alcançando os professores primários e não apenas os licenciados.
Carminha se integrou radicalmente ao nosso projeto. O Projeto Muda APLB, escrito por mim e pelo professor João Leite, a quem homenageio (in memóriam), que era professor da Universidade Federal da Bahia (presidente da APLB entre 63 e 67) tinha em Carminha não apenas uma entusiasta, mas uma executora. Naquele tempo não gozávamos das regalias dos dirigentes sindicais da atualidade, e a professora Carminha era quem me conduzia, no seu carro particular, para visitar escolas na capital e criar as zonais. Nunca me esqueço que, cedo da manhã, ela chegava à minha casa e dizia sempre a mesma coisa: – Vamos, magra!
O vitorioso projeto Muda APLB conseguiu expandir a entidade em todo o estado da Bahia, criando as organizações zonais e alcançando 48 mil sócios, quando me afastei para exercer o mandato de deputada.
Ela fazia parte da zonal da Liberdade, que tinha uma das bases mais importantes no Colégio Anísio Teixeira, não é por acaso que temos atualmente como diretora do colégio uma militante, daquela zonal, a professora Verônica Lisboa. Naquela base tínhamos professores muito importantes e atuantes como os professores Iná Monte Santo(que era secretária geral); Braulino Valeriano (que veio a ser Presidente, de 1979 a 1981); Misael Almeida (que se tornou vice – presidente da APLB de 1981 a 1983); Lúcia Arise (que se tornou conselheira); professora Soninha Leite (esposa do médico Atanázio Júlio, atual Secretário de Saúde de Salvador, foi vereador por várias legislaturas); a professora Herivalda Silva de Oliveira (que se tornou conselheira); Jussara Bittencourt(que ocupou cargos de direção); professores Cristina Sena, Salvador Brandão; Hélia Brandão; Marilene Puonzo; Luis Barreto; Jaci Souza, Selma Mota; Dorival, Zilda; Valmir Cirne; Enedina Sena; Isabel Pinto de Oliveira; Ana Célia Silva; Norma, Lídia; Ana Brandão; Idalina e a professora Maria Antônia Coutinho (escritora).
A professora Maria do Carmo Chastinet, se tornou suplente do conselho, porque sempre abria mão dos cargos, para que abrigássemos outros professores, só não abria mão de ocupar as primeiras filas de cadeiras, nas assembleias de professores, para acompanhar com mais atenção. Por isto, aparecia nas reportagens dos diversos canais de televisão, nas fotos na imprensa baiana, hoje diríamos que ela “viralizava nas redes”. A dedicação da professora era impressionante, era como um destino. E continuou me acompanhando no mandato de deputada, sem se afastar da APLB. O seu pai, Edgar Chastinet, era um engenheiro agrônomo, grande e renomado especialista em Agronomia. O deputado Edgar Chastinet prestou relevantes serviços ao país no Ministério de Agricultura, no Departamento Nacional de Produção Vegetal – DNPV, foi Presidente do Instituto Bahiano de Fumo – IBF -, diretor da Escola Técnica de Capatazes, Escola de Agronomia de Ensino Médio, da Região Sul, CEPLAC, Uruçuca-BA; criou a Escola Técnica Agrícola de Ensino Médio, 1962, Catu-BA; diretor da Faculdade de Agronomia do Médio São Francisco – FAMESF, 1968-1973, Juazeiro-BA; assessor do Secretário de Educação do Estado da Bahia, em 1973, e foi homenageado com seu nome na Avenida de Juazeiro – BA/Petrolina – PE. Carminha tem o mesmo nome da sua mãe Maria do Carmo Chastinet Guimarães, que era uma pessoa muito abnegada à família, dignificando-se pela honradez, caráter e generosidade. Por tudo isto, a devoção da Professora Maria do Carmo Chastinet à causa da educação tem muito a ver com essa herança, de servir.
Hoje mais velha e com a formação em Psicanálise, compreendo a luta da professora Carminha como uma continuidade da luta do seu pai e da generosidade da sua mãe, em prol da Bahia.
Á professora Maria do Carmo Chastinet, em nome da qual homenageamos todos os professores citados, devemos agradecer por tudo o que conquistamos na luta dos professores baianos.
E eu agradeço a Deus porque a tive como uma companheira de todas as horas!
*Maria José Rocha Lima, mestre e doutoranda em educação. Foi deputada de 1991 a 1999. Presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira. É psicanalista filiada à Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas em Psicanálise – ABEPP