O Ibovespa, principal índice da B3, caiu 1,15% e fechou o pregão desta terça-feira, 29, em 93.580,35 pontos – a menor pontuação em 95 dias. Desde que bateu a máxima após o início da pandemia, em julho, o índice já caiu 11,39%. O movimento de hoje deu continuidade à queda iniciada no início da semana, quando o presidente Jair Bolsonaro anunciou o programa social Renda Cidadã. Mas a base de financiamento do programa, que fará uso de recursos para pagamentos de precatórios e do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) não foram bem aceitas pelo mercado.
“As duas fontes de recursos para o programa não estão dentro do guarda-chuva do teto fiscal. Então, o mercado entendeu que tem uma maquiagem contábil para conseguir acomodar o programa”, afirma Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.
Nesta terça, o presidente Bolsonaro tentou amenizar a situação com os investidores e pediu “sugestões” em vez de críticas e chegou a falar em privatizações para arcar com os custos do programa. Mas a fala acabou gerando ainda mais instabilidade no mercado.
“[A declaração] contribui para a queda do índice, tendo em vista que mostra todas as incertezas da equipe Econômica com esse cenário de necessidade de estímulo, mas limitado ao teto de gastos. É um entrave complicado de ser solucionado. Enquanto isso, seguimos com o quadro fiscal deteriorado”, comenta Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos.
Embora a privatizações sejam encaradas como positivas pelos investidores, a possibilidade de elas saírem do papel para financiar o Renda Cidadã também foi vista de forma negativa. “Isso seria errada. O dinheiro de privatização é finito. Não pode vender ativo para pagar gastos correntes. Mas ele falou da boca para fora. Com certeza, não é o que o [ministro da Economia] Paulo Guedes pensa”, comenta Victor Hasegawa, gestor da Infinity Asset.