Maria José Rocha Lima*
Há 32 anos, realizou-se a maior marcha de que se tem notícia em Defesa da Escola Pública na Bahia – a Marcha Anísio Teixeira.
Quem me fez lembrar foi a professora Marinalva Nunes, então vice- presidente da Associação dos Professores Licenciados da Bahia- APLB, quando eu fui presidente. Ela recebeu a visita do ilustre professor Isaac, da cidade de Alagoinhas, e juntos rememoraram a marcha, que realizamos em 1988 e juntou 25 mil participantes nas ruas de Salvador.
A marcha ganhou uma dimensão cívica. Havia uma exaustão com tantas greves, manifestações e campanhas em defesa do Magistério e da Educação na Bahia. Entrava governo e saía governo, inclusive governantes de oposição a ACM, apoiados pela categoria, e nada mudou. Fizemos campanhas como: Muda Educação; SOS Educação; Caos na Educação – quem precisa sabe que nada mudou; Servente ganha mal, professor ganha pior, entre outras. Por isso, nos ocorreu a ideia de realizar a marcha com características semelhantes a uma Corrida Olímpica, na qual seria conduzida uma tocha, com revezamento de zonal em zonal; de cidade em cidade, até a chegada em Salvador, onde todos se reuniriam numa grande marcha.
A marcha foi muito bem recebida pelos professores da capital e do interior e nas zonais mais ativas foram feitas grandes mobilizações. Nós, os dirigentes da APLB à época, saímos pela Bahia afora, onde os índices de analfabetismo eram e continuam elevadíssimos. Havia município com 92% de analfabetos; altas taxas de evasão e de repetência escolar; baixos níveis de aprendizagem; falta de professores; altos índices de professores leigos ou sem a formação adequada; cargas horárias exaustivas; baixos salários – em mais de 50% dos municípios, os professores recebiam valores abaixo do salário mínimo nacional; perseguição política aos professores; falta de escolas; falta de segurança nas escolas; falta de limpeza nas escolas e imediações; altos índices de corrupção na merenda escolar e na aplicação de recursos da educação.
Para preparar a marcha, os professores iam às ruas, usando camisetas da marcha, davam entrevistas nas rádios e televisões locais; desfilavam com bandas marciais; organizavam corais, como fizeram os professores municipais de Salvador. Desse modo, organizaram caravanas de todas as zonais de Salvador e do interior da Bahia, reunindo as grandes cidades e as pequenas ao seu redor.
Depois da Marcha percorrer todo o estado da Bahia, reunindo representantes dos 415 municípios à época, quase todos organizaram as suas caravanas para marchar sobre Salvador. E assim aconteceu, com 25 mil professores, estudantes e pais participando da Marcha Anísio Teixeira em Defesa da Escola Pública!
*Maria José Rocha Lima é mestre e doutoranda em educação. Foi deputada de 1991 a 1999. É presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira.