Alunos do Curso de Formação de Oficiais (CFO) da Polícia Militar do DF (PMDF) denunciam casos de descumprimento de medidas de segurança por parte de oficiais da corporação durante a pandemia do novo coronavírus. Segundo fontes da PMDF relataram ao Metrópoles, 42 cadetes do CFO apresentaram oficialmente à instituição o teste com resultado positivo para a Covid-19. Na conta da própria PMDF, o total de alunos diagnosticados com a doença é ainda maior: 44 cadetes tiveram a Covid-19, informou a corporação à reportagem.
Em portaria publicada no dia 30 de julho, o comandante-geral da PMDF, coronel Julian Rocha Pontes, determinou o retorno das atividades presenciais do CFO neste mês de agosto, desde que observados os protocolos de segurança para a prevenção de contaminação pela Covid-19.
Seguindo o cronograma previsto no documento, a turma de 3º ano do CFO retornou no dia 3 de agosto. O 2º ano voltará às atividades presenciais nesta segunda-feira (17/8) e o 1º ano, no próximo dia 31. Nesta última data, retornam também os cursos sequenciais de carreira e de especialização.
De acordo com fontes ouvidas pela reportagem, quando a turma CFO III retomou as atividades presenciais, um dos cadetes estava contaminado. Foi, então, aberto um processo no Sistema Eletrônico de Informações (SEI) para apurar quais alunos tiveram contato com ele. A plataforma de arquivos eletrônicos permite verificar a movimentação de processos e documentos internos.
Segundo o documento do processo, ao qual o Metrópoles teve acesso, 44 cadetes tiveram contato com o aluno infectado. Desses, 20 testaram positivo, conforme fontes relataram à reportagem. Desde então, a turma do 3º ano seguia em modo de aula a distância. Nesta segunda-feira (17/8), as atividades voltam de forma presencial.
Na turma do 2º ano, que também retoma as aulas nesta segunda-feira (17/8), 13 testaram positivo para Covid-19, segundo fontes da reportagem. Entre os alunos do 1º ano, que retornam no próximo dia 31, nove contraíram coronavírus.
Atualmente, encontram-se matriculados 110 cadetes no CFO III, 110 no CFO II e 82 no CFO I, sendo um total de 302 alunos no curso.
Distância não respeitada
Ao Metrópoles, alunos que pediram para ter a identidade preservada revelaram que, com o retorno das atividades presenciais, eles dormem em quartos com beliches, sendo uma média de seis militares por quarto, o que acentua a possibilidade de contaminação.
“Entramos em forma lado a lado todos os dias, pelo menos duas vezes, sendo cada vez por mais de 30 minutos, sob a justificativa de ouvir instruções que poderiam ser feitas via celular ou outro meio digital. Embora haja orientação para manter a distância de 2 metros, muitas vezes, em razão das manobras durante a marcha no desfile, essa distância não é respeitada”, narrou um dos militares.
De acordo com eles, a coordenação do curso tornou obrigatório o uso de equipamentos de proteção individual (máscaras faciais, face shield e álcool em gel) pelos cadetes. Contudo, os materiais estariam sendo custeados pelos próprios alunos.
“A situação se agrava para aqueles que estão distribuídos no auditório da escola, posto que tem 45 cadetes com a distância de apenas uma poltrona para outra lateralmente, e nenhuma distância em relação à poltrona da frente”, afirmou um dos alunos.
Temendo pela saúde de suas famílias, cadetes reforçam que gostariam de manter as atividades remotas durante a pandemia. No entanto, a coordenação da escola teria dito que “a comunicação a órgãos externos de controle sobre possíveis irregularidades levará à suspensão do curso e os alunos ficarão prejudicados”.
Atividade sem equipamento
Dentre as denúncias recebidas pela reportagem, militares relatam que atividades sem equipamento de proteção estão sendo realizadas na Academia de Polícia Militar de Brasília (APMB).
Em sua conta no Instagram, o comandante da Escola de Formação de Oficiais, major Diogo, publicou uma foto na qual todos os oficiais aparecem sem usar máscara e face shield, equipamentos obrigatórios, segundo norma da própria academia. Na publicação, feita no dia 12 de agosto, ele ainda coloca a localização da foto como sendo na APMB.
Veja abaixo:
O que diz a PMDF
Procurada pelo Metrópoles, a PMDF se manifestou oficialmente por meio de duas notas em relação às denúncias dos alunos. A corporação confirmou que 44 cadetes tiveram contato com um aluno infectado no retorno das aulas do CFO III e ainda acrescentou que três apresentavam sintomas antes do início das aulas.
“Ainda no dia 4 [de agosto], foi determinado que todos, independente de contato ou não, deveriam cumprir isolamento, suspendendo as atividades presenciais por 14 dias. Existe a previsão para o retorno das aulas presenciais ao fim deste prazo”, pontuou.
Atualmente, conforme a PMDF, quatro cadetes do CFO III ainda apresentam sintomas e seguirão afastados. “Qualquer policial que apresente sintoma é imediatamente afastado e encaminhado para a tenda de testagem da PMDF.”
Com relação à publicação no perfil do major Diogo, a corporação disse que a foto foi publicada “após a realização de atividades físicas seguindo todos os protocolos de biossegurança, tendo as máscaras sido retiradas apenas para a foto”.
Questionada se confirmava os números de infectados passados por fontes da corporação à reportagem (42), a PMDF encaminhou novo texto, reconhecendo novamente que, no total, 44 cadetes do curso de formação foram infectados pela Covid-19, sendo que a maioria se contaminou fora da Academia da Polícia Militar e já se recuperou.
Confira o texto:
“No momento, três cadetes estão afastados com Covid. Eles se contaminaram fora da academia, quando as aulas estavam suspensas. Os três estão afastados e só retornarão às instruções após período de quarentena e teste para verificar se estão curados. Outros 44 cadetes foram infectados, também fora da academia, mas já estão curados.”