O escoteiro desapareceu há 35 anos no Pico dos Marins, em São Paulo, e, até hoje, permanece um enigma
No dia 8 de junho de 1985, o escoteiro Marco Aurélio Simon desapareceu misteriosamente durante uma excursão ao Pico dos Marins, no município de Piquete, em São Paulo. O caso foi amplamente divulgado pela mídia e numa tentativa de encontrar o garoto, as autoridades montaram uma das maiores equipes de buscas do Brasil. No entanto, até hoje, o desaparecimento do garoto permanece um enigma.
O desaparecimento
A partir do depoimento do líder dos escoteiros, Juan Bernabeu Céspedes, e dos colegas de equipe, Osvaldo Lobeiro, Ricardo Salvione e Ramatis Rohm, as autoridades montaram a versão oficial do inquérito. Na ocasião, o grupo se estabeleceu na base do Pico dos Marins, entretanto, ao escalar o pico, Osvaldo Lobeiro, teria se machucado.
Como Céspedes teve que supervisionar o ferimento no joelho do jovem escoteiro, ele permitiu que Marco Aurélio voltasse sozinho ao acampamento. Descendo o Pico dos Marins, o garoto deveria abrir caminho para os demais, marcando as pedras com o número 240 — símbolo de identificação do Grupo de Escoteiros Olivetanos.
Após 15 minutos que o grupo partiu, perderam Marco Aurélio de vista, enquanto desciam o Pico do Marins em direção ao acampamento. Durante o trajeto, os demais escoteiros teriam identificado apenas três marcações feitas pelo garoto. As marcas teriam os levado até uma bifurcação e Marco Aurélio teria escolhido seguir por um caminho repleto de obstáculos. Tal fato não fez muito sentido para os escoteiros, pois o lado esquerdo da bifurcação atrapalharia a passagem dos integrantes, visto que um dos membros estava machucado.
Como Céspedes era o líder, decidiu ignorar o caminho escolhido pelo jovem e seguiu a direção oposta de Marco Aurélio, contrariando a opinião dos outros garotos.
Durante o depoimento, Céspedes disse que acreditava não haver problema em desviar a direção, pois mais à frente iriam cruzar os caminhos. No entanto, o que o líder dos escoteiros não esperava é que Marco Aurélio nunca mais seria visto. Na manhã do dia seguinte, Céspedes decidiu procurar pelo garoto, mas como não o encontrou, decidiu acionar as autoridades.
Investigações
Vista a situação, Ivo Simon, pai de Marco Aurélio, mobilizou uma grande equipe de busca. Por meio de contatos influentes e da mídia, Ivo Simon reuniu as forças, o Quinto Bil, o Batalhão de Infantaria Leve de Lorena, com 180 soldados e o Centro de Operações Especiais (COE) com 18 homens. Além disso foram utilizados nas buscas, seis alpinistas de Agulhas Negras, helicópteros da base área da Escola de Especialistas de Aeronáutica de Guaratinguetá e um avião enviado pelo ex-governador Franco Montoro.
No entanto, no terceiro dia de buscas, um incêndio tomou conta do Picos dos Marins, o que levou os delegados George Henry e Bayerlein acreditarem que o incêndio teria sido proposital. Mais tarde, Olindo Roberto Bonifácio que participou da reconstituição do caso como guia e voluntário, questionou o depoimento de Céspedes, que apresentava inconsistências. Além disso, o inquérito policial foi considerado não confiável.
As investigações oficiais foram encerradas em 8 de abril de 1990 e o caso foi arquivado, até que em 10 de março de 2005, o jornalista investigativo Rodrigo Nunes, desarquivou o inquérito. Por meio de uma análise minuciosa, o jornalista identificou diversas inconsistências nos relatos dos escoteiros e de Céspedes.
A investigação completa foi apresentada em dois livros, sendo compilados em uma só obra, em 2015. Na reportagem, Rodrigo Nunes retrata, ainda, a investigação policial completa, revela fatos controversos e reúne diversas teorias e entrevistas de testemunhas da época
Teorias e mais mistério
Ao longo dos anos diversas teorias surgiram, entre elas apresentadas por um delegado, que sugeriu um possível envolvimento de alienígenas no desaparecimento. Segundo o inquérito, na segunda noite de buscas, os escoteiros ouviram um grito seguido de um apito vindo do matagal, próximo ao local do desaparecimento.
Como Marco Aurélio possuía um apito por ser escoteiro, todos se dirigiram a localidade, no entanto, não encontraram o garoto, mas sim luzes azuis. Esta teoria é sustentada somente pelo grupo de escoteiros que presenciou o fato, entretanto, Afonso Xavier, que também estava presente durante o ocorrido, disse que as luzes eram de casas da região.
Em 2011, Ivo Simon declarou que estava preparando um roteiro de cinema sobre o ocorrido, a partir de 400 páginas das investigações, com laudos assinados por policiais que participaram das buscas. Entretanto, mesmo após 35 anos do desaparecimento de Marco Aurélio, ainda hoje, o caso permanece um mistério.
Fonte: Uol
Adel Bezerra
Jornalista