Maria José Rocha Lima*
Outra vez, foi um acontecimento feliz a live de Caetano Veloso, com os seus três filhos. Parece que foi ontem que eu assisti Caetano cantando Alegria, Alegria, no Festival da Canção da TV Record. Alegria, Alegria foi um marco na minha vida, porque fiquei entretida com a canção e com o cantor e deixei de lado o dever escolar, não concluindo o trabalho de passar a limpo o caderno de álgebras. Tudo aquilo que ouvi, na letra da música, parecia me fazer ciente sobre as coisas que aconteciam no Brasil e no mundo. Eu tão novinha, segunda série ginasial, me senti compenetrada caminhando contra o vento, sem lenço e sem documento, e rebelei – me. Quando exercendo o mandato de deputada, contei em discurso, na Assembleia Legislativa da Bahia, homenageando a minha inesquecível professora de Matemática Maria Augusta Moreno, que Caetano Veloso me fez pela primeira vez, na vida estudantil, atrasar a entrega de um dever de casa. E logo atrasar a entrega a Maria Augusta, minha querida professora do curso ginasial, temida por todos os que não gostavam das coisas exatas. Depois de muitos anos, conheci a querida amiga Mabel Veloso e o querido amigo Jota Veloso, que promoveram a minha ida à Festa da Purificação e num encontro rápido, na casa deles, contei a Caetano Veloso:
– Sempre fui uma aluna aplicada, pontual na entrega dos deveres escolares, mas você, cantando Alegria, Alegria, me encantou e me fez atrasar a entrega de um caderno de álgebras.
Ele me respondeu:
– Ainda bem que você o retomou… Ainda bem mesmo, senão estaria hoje sem nada nos bolsos ou nas mãos.
*Maria José Rocha Lima é mestre e doutoranda em Educação. Foi deputada de 1991 a 1999. É presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira e Psicanalista filiada à ABEPP.