O ministro dos Negócios Estrangeiros da China disse hoje que o seu país responderá “firme” e “racionalmente” aos ataques dos Estados Unidos, e pediu ao mundo a opor-se a “qualquer ato unilateral ou hegemônico” de Washington.
Durante uma conversa por telefone com o homólogo francês, Jean-Yves Le Drian, Wang Yi disse que os EUA “abandonaram o mínimo de bom senso” nas relações bilaterais e “violaram os princípios mais básicos das relações internacionais”, apontando o dedo á atual administração norte-americana, liderada pelo Presidente Donald Trump.
“Tolerar um agressor não manterá ninguém seguro, mas fará apenas com que este se comporte de maneira mais ousada e aja pior”, disse Wang, citado pela agência noticiosa oficial Xinhua.
O ministro chinês apelou a “todos os países que ajam no sentido de resistir a qualquer ato unilateral ou hegemônico e salvaguardem a paz e desenvolvimento mundiais”.
O chefe da diplomacia chinesa alertou ainda para a intervenção na semana passada do Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, na Biblioteca Richard Nixon, que disse que ” velho paradigma do envolvimento cego com a China simplesmente falhou” e que está na hora de mudar o caminho.
Para Wang Yi, o discurso de Pompeo instigou “um novo confronto ideológico, levando o mundo a uma nova Guerra Fria”.
“É como se o fantasma do McCarthyismo pudesse ser vislumbrado”, disse, referindo-se ao período de perseguições e listas negras de suspeitos de serem comunistas, promovidos nos EUA, nos anos 50, pelo senador Joseph McCarthy.
Wang disse que se essas “teorias da conspiração” forem alimentadas, não apenas as relações China – Estados Unidos “cairão no abismo do confronto”, mas “o mundo inteiro enfrentará uma crise de divisão e todo o futuro da humanidade estará em perigo”.
O ministro disse a Le Drian que o número de tratados internacionais dos quais o atual Governo norte-americano se retirou “é o maior face a qualquer um dos seus antecessores”.
“E o pior é que, num momento crítico em que a comunidade internacional precisa mais de solidariedade internacional para combater a covid-19, Washington anunciou a sua retirada da Organização Mundial da Saúde (OMS)”, acrescentou.
“Os Estados Unidos tornaram-se os principais responsáveis pela destruição da ordem internacional atual. São um país que se opõe às tendências históricas e à comunidade internacional”, afirmou.
Wang Yi enfatizou que a China adotará “medidas firmes contra estes comportamentos ultrajantes que minam os seus direitos e interesses legítimos”.
“Pequim nunca permitirá que alguns elementos anti-China interrompam décadas de intercâmbio e cooperação bem-sucedidos entre a China e os Estados Unidos, nem permitirá que preconceitos ideológicos minem o desenvolvimento futuro” do relacionamento, disse.
Wang disse confiar que os restantes países do mundo “tomarão a decisão certa e sábia”, em vez de “ficarem reféns de um pequeno número de políticos norte-americanos”, e que farão esforços para “evitar conflitos e confrontos”, bem como retomar o processo da globalização “brutalmente interrompido”.
O nível de tensões entre China e Estados Unidos tem atingido novos patamares, sendo o último episódio o encerramento do consulado norte-americano na cidade de Chengdu, no sudoeste do país, ordenado por Pequim numa retaliação imediata pelo encerramento do consulado chinês em Houston, no estado do Texas.
Navios de guerra norte-americanos e chineses estão constantemente a disputar posições no Mar do Sul da China, uma faixa de navegação vital na região Ásia-Pacífico.
Os EUA estão a pressionar os seus aliados a excluir o grupo chinês de telecomunicações Huawei das suas redes móveis, sob o pretexto da segurança da rede, e impuseram já sanções à China devido a violações dos direitos humanos em Hong Kong, Tibete e Xinjiang.
Uma prolonga guerra comercial subsiste entre os dois países, apesar de um acordo de Fase 1, que não conheceu novos desenvolvimentos desde o final do ano passado.
O discurso de Pompeo foi apenas o mais recente de uma série de críticas severas dirigidas à China por membros do Governo norte-americano, incluindo o secretário de Defesa, Mark Esper, e o procurador-geral, Bill Barr.