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Na última década, o estudo COSI Portugal, desenvolvido pelo Departamento de Alimentação e Nutrição do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge e integrado na Childhood Obesity Surveillance Initiative da Organização Mundial da Saúde-Europa, tem vindo a mostrar uma tendência invertida da prevalência de obesidade e excesso de peso infantil (-8,3% entre 2008 e 2019). No entanto, ainda uma em cada três crianças apresenta excesso de peso e 10,6% obesidade infantil.
É também comum observar-se obesidade infantil em famílias que apresentam obesidade e outras co-morbilidades associadas. Mais de 60% das crianças obesas serão adultos obesos, reduzindo a média da idade do aparecimento de doenças não transmissíveis o que, por si só, apresenta maior risco de desenvolver complicações pela Covid-19, sendo esta situação particularmente preocupante entre crianças de estratos socioeconômicos mais desfavoráveis.
Face o desconhecimento sobre o tratamento deste vírus e fácil transmissão do mesmo, foram introduzidas medidas as quais conduziram, inevitavelmente, a alterações nas rotinas diárias habituais. Estas restrições incluíram o encerramento de escolas e creches e a implementação da telescola, obrigando as crianças a passar mais tempo em casa.
Desafios à prevenção de obesidade
Em Portugal, não está prevista a abertura das escolas até ao final do presente ano letivo, exceto para os últimos anos do ensino secundário e profissional. Estas alterações constituem possíveis desafios à prevenção de obesidade, uma vez que o encerramento das escolas pode exacerbar o risco de aumento de peso, semelhante ao descrito em vários estudos no período das férias de verão.
A prática de atividade física (espontânea e organizada), frequentemente realizada em espaços ao ar livre e na escola, nestas idades, ficou condicionada, especialmente nas famílias que habitam em zonas urbanas. É expectável que os hábitos sedentários aumentem, em grande parte devido ao tempo despendido com aparelhos eletrónicos, não só pelas atividades lúdicas, mas também pela própria adaptação do sistema educativo.
O elevado tempo de ecrã tem sido associado ao desenvolvimento de excesso de peso e obesidade em idade pediátrica, devido a um maior consumo de snacks durante esta atividade e pela própria exposição ao marketing de produtos ricos em açúcar, sal e gordura, bem como pelo aumento do sedentarismo. Adicionalmente, a alteração de rotinas de todos os membros da família pode conduzir a um maior stress e a alterações nos padrões de sono, contribuindo para a preferência por “alimentos de conforto”.
Por outro lado, a compra de alimentos também se alterou, verificando-se uma deslocação menos frequente a supermercados, acompanhada por um maior volume de alimentos adquiridos e optando por alimentos menos perecíveis, como enlatados e alimentos processados. Esta alteração nas rotinas e no padrão de compra pode contribuir para um aumento do aporte energético alimentar por toda a família, principalmente pelo consumo mais frequente de alimentos ricos em gordura, açúcar e sal.
Estas alterações no estilo de vida provocadas pela Covid-19 foram recentemente demonstradas num estudo realizado em crianças com obesidade, em Itália. Durante a quarentena, foi observado um aumento significativo do consumo de alimentos menos saudáveis (como batatas fritas e bebidas açucaradas), diminuição da prática de atividade física e aumento do tempo de ecrãs (televisão, computador, entre outros).
Nas crianças com excesso de peso e obesidade, o isolamento é especialmente preocupante uma vez que o ambiente desfavorável compromete a manutenção de estilos de vida saudáveis. Para além da manutenção das rotinas saudáveis pré-estabelecidas, a abordagem da obesidade infantil apresenta ainda outros desafios, tal como o acesso aos serviços de saúde.
Medidas de Prevenção de Obesidade Infantil
Perante o panorama atual, é crucial a adoção de medidas inovadoras para prevenir o agravamento da prevalência de obesidade infantil em Portugal. Devem ser maximizadas as oportunidades para incorporar comportamentos saudáveis na rotina diária, tais como as refeições e a prática de atividade física em família, bem como outras atividades lúdicas e criativas.
Fonte: INSA
*Adel Bezerra
Jornalista