Os dois casais chegaram a loja de conveniências do Posto de gasolina da BR 230 para tomar uma saideira. Vinham de um domingo repleto de visitas, de churrascos, de cervejas geladas, de bons papos, de belas vistas, de paisagens inesquecíveis, de visuais maravilhosos e, antes de se entregarem aos braços de Morfeu para o merecido sono, fariam ali, na lojinha de beira de estrada, o brinde derradeiro, fechariam o domingo com a chave de ouro que fecha todos os bons programas.
Pediram a cerveja, um queijinho para quebrar a monotonia, do teto saiu uma musiquinha romântica, a floresta ali adiante emprestou ao quadro um ar de romantismo, tudo isso aliado a um posto de gasolina semi-deserto, ao bombeiro sonolento e a mocinha do caixa que só fazia observar, à distância, o relógio que marcaria o fim do seu turno.
O papo entre os quatro era o mesmo do dia todo, as duas mulheres falando de vestidos, de saias, de blusas, do novo modelo de sutian que aumenta o tamanho dos peitos, daquela calça comprida tomara que caia que só cobre a metade da bunda, dos shampoos que lavam e pintam sem dar trabalho aos cabelos envelhecidos, enquanto os homens se gabolavam das traquinagens que praticaram durante a semana na busca do lucro que lhes proporciona farras como aquela.
Em determinado momento os dois homens levantaram-se para espichar as canelas. Foram para fora, cochicharam e depois voltaram. Só que voltaram diferentes. Um sentou perto da mulher do outro e o outro sentou perto da mulher de um. Um não contou conversa: foi logo pegando na perna da mulher do outro, alisando a coxa, subindo a mão pela barriga, dando sinais de que pretendia percorrer aquele corpo fazendo uma análise sintática e emburacando numa morfológica.
A mulher do outro deixou.
Já o outro, quando começou a fazer a mesma coisa na mulher de um e pretendia segurar no seu “coração”, encontrou pela frente um tabefe na cara, seguido de uma garrafada que lhe abriu a testa. Os dois esqueceram de combinar o swing com a mulher de um e ela, que não topou a parada, armou o barraco. Derrubou as garrafas, virou a mesa, gritou feito uma doida, a mocinha do caixa se desesperou, o bombeiro correu para o orelhão, chamando a polícia, a polícia chegou, teve trabalho para segurar a mulher de um, depois todos foram levados para a Delegacia, onde um delegado circunspecto, preocupado com o bem estar da família, aplicou um sermão nos quatro e os convenceu a fazer as pazes, deixando tudo por isso mesmo.
No fim, todos apaziguados, pacificados e amados, foram embora para suas casas, dispostos a riscar dos seus cadernos essas inovações sexuais.
Tião Lucena, jornalista.