Maria José Rocha Lima*
O Dia da Educação é comemorado anualmente em 28 de abril. A data tem como objetivo conscientizar as pessoas sobre a importância da educação: familiar, escolar e social, sempre visando à construção de valores fundamentais para a vida em sociedade.
Ninguém melhor para falar sobre a essencialidade da educação do que o filósofo Imannuel Kant, fundador da Educação Moderna. Kant nasceu na Prússia, em 22 de abril de 1724, e foi professor da Universidade de Königsberg por quase cinco décadas. Nos seus estudos sobre educação, ele concluiu que “o homem é o que a educação faz dele”, provocando uma revolução no pensamento educacional da época.
No século XVIII, o filósofo ministrou Lições de Pedagogia na Universidade de Konisberg, na Alemanha, que precisam ser revisitadas porque não deixam dúvidas sobre o quanto é imperiosa a educação, desde a mais tenra idade.
As suas lições, mais tarde registradas na sua obra “Sobre a Pedagogia”, inspirou as concepções educacionais, estando em consonância com ideias educacionais e evidências científicas de neurocientistas, economistas e cientistas sociais dos séculos XX e XXI.
Na introdução da sua obra, ele define a educação como o cuidado da infância, a disciplina e a instrução com a formação humana, essa compreende a disciplina e a instrução. Destaca que a educação forma o caráter e a capacidade de dominar algumas paixões e algumas inclinações, além da necessidade de adquirir e desenvolver as disposições naturais existentes no ser humano, para viver em sociedade e amar o bem.
Para Kant, entre as descobertas humanas há duas dificílimas e são: a arte de governar os homens e a arte de educá-los (KANT, 2002, p. 2). O ser humano não tem os comportamentos fixados, como, por exemplo, as andorinhas: “Apenas saídas do ovo e ainda cegas, sabem dispor-se no ninho de modo que os excrementos caíam fora do ninho”, mas será o único ninho que ela vai fazer e repetir ao longo da vida. (Kant, 2002, p.16 a 17).
O que me atrai fortemente na retomada da obra de Kant é a sua defesa intransigente da disciplina desde a mais tenra idade, porque esta vai de encontro aos impulsos instintivos. A disciplina é o remédio vital, amargo, mas decisivo, contra a selvageria e tem de ser ensinada desde muito cedo, considerando a grande estima e o desejo incontrolável do ser humano pela liberdade.
Para o filósofo, a instrução, para o enfrentamento da rudeza, que é a aquisição dos bens da cultura, pode ser adquirida em qualquer momento da vida. Diferentemente da disciplina, a qual se aprende cedo ou não tem jeito, fica muito difícil aprender depois de acostumado a seguir suas próprias regras.
O fundador da educação moderna deve ter inspirado Sigmund Freud, que mais tarde, em 1929, escreveu O mal-estar na civilização, um texto no qual discute o fato da cultura – termo que o autor iguala à civilização – produzir um mal-estar nos seres humanos, pois que existe uma dicotomia entre os impulsos pulsionais e a civilização.
Portanto, para o bem da civilização, o indivíduo é oprimido, sim, em suas pulsões e vive em mal-estar. Há um choque entre o desejo de individualidade e as expectativas da sociedade.
E a educação tem exatamente como o mais importante papel disciplinar o indivíduo para a convivência social madura, por isso saudável e democrática.
Maria José Rocha Lima é mestre e doutoranda em educação. Foi deputada de 1991 a 1999. É Fundadora da Casa da Educação Anísio Teixeira. Psicanalista filiada à ABEPP.