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Com alta demanda e pouca oferta, criminosos estão aproveitando para lucrar com a venda de álcool em gel na internet. O produto é uma das principais armas no combate ao novo coronavírus.
Com fábricas clandestinas e manipulação inadequada de líquidos inflamáveis, infratores colocam a vida de outros e a própria vida em risco. Os itens usados nas misturas variam de gel para cabelo, solução para ultrassom e etanol.
A fabricação é feita de forma improvisada, em casas e galpões no Distrito Federal. Os itens, de baixo custo e eficácia não comprovada, após misturados, embalados e rotulados, são vendidos em grande escala para farmácias e na web.
O preço final para o consumidor, mesmo se tratando de um produto clandestino, é salgado. Varia de R$ 25 a R$ 50 a unidade.
Na sexta-feira (27/03), na internet anunciantes do DF e Entorno que vendiam o produto em embalagens de 300g a galões de 5 litros. As marcas são desconhecidas e os rótulos apresentam instruções em inglês. Quando em português, estampam erros gramaticais como “Limpeza complementar das mão”.
Em conversa com um dos vendedores, por telefone, o homem afirma que a marca é nova no mercado e que vende de cinco a 10 unidades por dia. Para tornar a oferta mais atrativa, ele oferece frete grátis para qualquer região do DF.
A marca com a qual o vendedor trabalha, a Álcool Plus, é a mesma que foi alvo da Operação Mau Negócio da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). A ação deflagrada na terça-feira (24/03) resultou na apreensão de 588 unidades falsificadas.
O número de apreensões desse tipo mercadoria ultrapassa 1,3 mil em menos de uma semana de fiscalização. O crime contra a saúde pública é hediondo e tem pena de 10 a 15 anos. Os comércios que colocarem a venda esse tipo de produto também podem responder pelo crime.
DF e Entorno
Um anúncio em um site de vendas levou a PCDF, a Polícia Civil de Goiás, a Vigilância Sanitária a uma fábrica de cosméticos no Entorno do DF. A operação ocorreu na sexta-feira (27/03). No local, fiscais da vigilância constataram que o local não cumpria algumas normas sanitárias e notificou a empresa. Amostras do álcool fabricado no local foram apreendias e serão periciadas.
“Notamos que têm muitas fábricas de Goiás fazendo esse produto fora das normas e remetendo para o DF. As vendas online também são monitoradas pela polícia. Foi exatamente uma delas que deu início a essa operação. É importante deixar claro que pessoa física não pode comercializar álcool gel. Quem estiver atrás de um lucro rápido, pode acabar na cadeia”, alertou o delegado da Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri) Erick Sallum.
O policial também alertou que, na internet, há casos em que estelionatários que cobram o pagamento, mas não entregam os produtos.
Perícia
Os produtos apreendidos pela PCDF são encaminhados ao Instituto de Criminalística (IC), onde passam por perícia. Emerson Pinto de Souza, diretor do IC, explica que não há padronização em fabricações clandestinas.
“Em alguns casos, podem até ser usados os mesmos insumos que a indústria utiliza. Cabe ressaltar que, para reduzir custos, fabricantes clandestinos podem dispensar o uso da glicerina, agente umectante que protege e hidrata a pele”, detalha.
Emerson aponta que o uso repetitivo do produto sem esse componente pode resultar no ressecamento da pele. “E resultar, em vários casos, em rachaduras, situação na qual o usuário ficará ainda mais exposto, por exemplo, ao novo coronavírus”, alertou.
O perito criminal da PCDF Diego Mendes de Souza chama atenção para outro perigo também decorrente da fabricação clandestina. Para fazer o produto, os criminosos utilizam grandes quantidades de etanol 96°GL, concentração elevada e bastante inflamável.
“A falta de sistema de combate a incêndio no local e de equipamentos de proteção (EPIs e EPCs) pode resultar em incêndios com várias vítimas que ali estejam trabalhando. Somado a isso, no local certamente haverá embalagens de plástico e rótulos de papel (com alto potencial combustível), que podem potencializar um incêndio de grandes proporções”, disse.
Ultrassom
Uma outra fábrica foi fechada pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) na quarta-feira (25/03). Os criminosos usavam solução de ultrassom para produzir a mercadoria. No imóvel, localizado no Jardim Botânico, foram encontrados 200 frascos do material. O proprietário acabou preso em flagrante.
O estabelecimento não tinha autorização para produzir qualquer saneante ou cosmético. Além dos frascos contendo o produto, devidamente rotulados e com gel em seu interior, os investigadores apreenderam o material utilizado para fabricação, entre eles, a solução para realização do exame de ultrassom.
A investigação foi conduzida pela Coordenação de Repressão ao Crime Contra o Consumidor, a Propriedade Imaterial e a Fraudes (Corf) em conjunto com a Vigilância Sanitária do DF.
O delegado-chefe da Corf, Wisllei Salomão alerta que os consumidores que adquiriram produtos falsificados, vendidos como se fossem legítimos, não precisam sair de casa para comunicar o crime à PCDF. É possível fazer o registro da ocorrência na delegacia eletrônica.
Confira o alerta feito pelo delegado:
“A polícia está focada em coibir a ação de aproveitadores que estão se valendo deste momento de fragilidade para aplicar golpes que podem lesar não só o bolso mas a saúde das pessoas”, destacou o delegado Robson Cândido, diretor-geral da PCDF.
De acordo com Cândido, o Departamento de Polícia Especializada (DPE) está mobilizado para atender as denúncias.
Fique atento
Antes de adquirir o produto é preciso verificar se a empresa tem autorização para fabricá-lo. Basta seguir esses passos:
– Acesse o site da Anvisa e clique na aba “serviços”;
– Clique na aba “Cidadão” e depois em “Consultas a empresas autorizadas”;
– Clique em “Acesse o serviço” e no ícone “Funcionamento de empresa”;
– Por último, clique em “Consultar empresa nacional” e insira o CNPJ do estabelecimento. Por fim, clique em “Consultar”.
As fiscalizações seguem no Distrito Federal. Os empresários que adquiriram os produtos clandestinos serão identificados e notificados.
Manoel Silva Neto, diretor da Vigilância Sanitária do DF acrescenta que a empresa que cometer atos como esse estará sujeita a sanções, processo administrativo sanitário e multas que variam de R$ 2 mil a R$ 1,5 milhão.
Já o diretor do Procon, Marcelo Nascimento, deixa um alerta aos consumidores. “É preciso ficar atento e observar a embalagem do produto. Esse que nos apreendemos apresentava algumas informações do rótulo escritas em inglês e isso é contra as normas”, detalha.
“Observe as características e a marca dos produtos. Evite marcas desconhecidas. Em caso de dúvida ou denúncias, nós orientamos a procurar os órgãos de fiscalização como Procon, Vigilância Sanitária e a PCDF”, destacou.
(Metrópoles)