Miguel Lucena
Faz algum tempo, eu chorava e ela cantava
me amamentava quando a fome me doía
Em plena noite, silenciosa e fria,
Em seu peito de mãe me aconchegava.
Cantava uma canção doce de ninar
a balançar seu rebento de amor
como se estivesse a regar uma bela flor
a razão do seu viver, do seu sonhar.
E ao findar a noite, vindo o dia,
com a ousadia que tem toda mulher,
reunia forças, fibra, garra e fé
e o pro roçado Emília seguia.
Não era rainha do lar,a sertaneja,
que na peleja desta dura lida não fraquejou.
É rainha da vida, meu maior templo, minha maior igreja.
Chora hoje quando eu canto para ela,
minha flor bela que inspira esta poesia, chora na noite silenciosa e fria
com saudades do poeta, filho dela.
Meu aconchego, que hoje faz setenta
nem aparenta, parece uma criança,
sorrindo ao mundo fé e esperança,
preparando a festa dos noventa.