Maria José Rocha Lima*
Quando se trata da educação, tudo é tão absurdo e incerto que até a data comemorativa deste 28 de abril PODE SER O DIA DA EDUCAÇÃO, OU NÃO.
Na verdade, para a Organização das Nações Unidas (ONU) este não é o Dia Internacional da Educação, mas apenas o aniversário do evento em Dakar. Porque, pelo cronograma oficial da ONU, 28 de abril é, na verdade, Dia Internacional da Saúde e Segurança no Trabalho.
A data de 28 de abril ficou internacionalmente conhecida como Dia Mundial da Educação porque, neste dia, no ano 2000, foi realizado no Senegal o Fórum Mundial de Educação de Dakar.
Lembra uma questão filosófica ou freudiana? Pode parecer estranho, mas frente a tantos absurdos que ocorrem na educação brasileira essa confusão de data comemorativa não passa de mais um dos absurdos com precedência.
Quando se trata de educação tudo pode acontecer, “inclusive nada”. Qualquer pessoa pode ganhar o título de profissional da educação, de educador; abordar temas complexos sobre educação; qualquer um pode dirigir as escolas, mesmo que não tenha formação pedagógica e nada entenda de educação. Os ministros de preferência devem ser de áreas diversas, de preferência sem nenhum conhecimento sobre a área.
Curioso também é que na educação há uma repetição de discursos das autoridades, no Império ou na República, quase sem data, de conhecimento profundo dos seus problemas seculares e das suas conhecidas soluções. Assim, vão sendo expostas as demagogias dos legisladores, de executivos e até de militantes políticos, que, ideologizados nos partidos políticos, não se opõem verdadeiramente contra essas “vontades políticas”, de preservar exércitos de analfabetos, ou pessoas com baixa formação educacional nas escolas de má qualidade, usadas como instrumento de dominação do nosso povo.
Os problemas e soluções se repetem, às vezes secularmente, sem resultados, provocando em nós profundo desalento. Só para ilustrar, em 1848, o Ministro José Carlos de Almeida Torres assim se pronunciou: “O quadro da instrução pública primária oferece aspecto melancólico e triste e isto tem quatro causas: falta de idoneidade e conhecimento dos mestres; o profundo descontentamento dos mestres por falta de proteção do poder público e de recompensa pecuniária; a deficiência dos métodos de ensino e a inadequação e falta dos prédios para as escolas”.
Quase dois séculos depois, poderíamos repetir o relatório com as mesmas causas. Temos sempre a impressão penosa de que estamos a nos repetir, como dizia Anísio Teixeira.
No que se refere ao professor, é necessário enfatizar e o texto supracitado é um bom exemplo da trágica situação. Os professores brasileiros ocupam o último lugar no ranking mundial de valorização da Pesquisa da Varkey Foundation feita entre 35 nações. O fundador da Varkey Foundation, Sunny Varkey, enxerga que os resultados da pesquisa apontam que para um país ter uma boa educação o professor precisa ser valorizado e receber um bom salário. Ele também fala da necessidade de prestígio social do professor.
Neste dia 28 de abril, mais do que comemorar, vamos perguntar o que ficou de resultados de tantas campanhas, desde a década de 1950, como o Movimento de Educação de Base (MEB), da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); do Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), nas décadas de 1970 e 1980, durante o governo militar; do Programa Alfabetização Solidária, dos anos 1990, no governo de FHC; e o Programa Brasil Alfabetizado nos dois mandatos do governo Lula e da presidente Dilma Rousseff. E a Pátria Educadora?
No ranking elaborado com base em dados divulgados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que aplica os testes internacionais Programa Internacional de Avaliação dos Alunos (Pisa), Tendências Internacionais nos Estudos de Matemática e Ciência (Timms) e avaliações do Progresso no Estudo Internacional de Alfabetização e Leitura (Pirls), os resultados são desalentadores, pífios, considerando os vultosos recursos aplicados, com alarde, ao longo de tantos anos:
O Brasil fica em 88º lugar em ranking de educação da Unesco;
Os alunos brasileiros vão demorar 260 anos para atingir a proficiência em leitura dos alunos dos países desenvolvidos, de acordo com os estudos do Banco Mundial; e na matemática serão necessários 75 anos para os estudantes brasileiros atingirem a pontuação média, registrada entre os alunos dos países desenvolvidos;
O Brasil é o 8° país com mais adultos analfabetos do mundo. A UNESCO registra que 38% dos analfabetos latino-americanos são brasileiros.
O Brasil ocupa o 1º lugar no ranking da violência contra professores e lidera o ranking mundial de violência nas escolas. Pesquisa realizada pelo Sindicato dos Professores do Distrito Federal, de 4/12/2017 a 21/3/2018,concluiu que 97,15% dos educadores da rede pública já presenciaram atos de violência dentro das escolas.
Quando se analisa o ranking de educação mundial deparamos com um cenário preocupante para o Brasil. É duro amargar posições tão ultrajantes, num tema tão importante.
Apesar de desalentadora, há uma situação que traz novas perspectivas para o futuro. Afinal, se há uma questão unânime nesse resultado é que o país precisa investir (e muito) em educação, especialmente na Primeira Infância. *Maria José Rocha Lima é mestre e doutoranda em educação. Deputada baiana de 1991-1999. Fundadora da Casa da Educação Anísio Teixeira.