Miguel Lucena*
Quem mata não são as armas de fogo, mas as pessoas que as usam: assassinos, latrocidas, terroristas, loucos ou alguém em legítima defesa. Entretanto, no afã de defender a tese contrária à vontade da população manifestada em plebiscito, o presidente da OAB nacional, Claudio Lamachia, vinculou o ato tresloucado do matador de Campinas/SP ao porte de arma, numa contradição absurda, porquanto está em vigor o Estatuto do Desarmamento.
O argumento do advogado nos leva a crer que o Estatuto do Desarmamento foi revogado e o porte de armas liberado no Brasil, o que não é verdade.
O cidadão saudável, cumpridor de seus deveres, está desarmado: o padre, o sacristão, a freira, o fiel, todos com as mãos abanando, e o bandido efetuando os disparos.
Frei Anastácio Palmeira, um cafuso que foi vigário de Princesa no início dos anos 70, só andava com o revólver por baixo da batina, mas nunca atirou em ninguém. Por outro lado, sabedor de que ele vivia armado, nenhum bandido encostava para lhe roubar a caixa das almas.
O atirador de Campinas, provavelmente com transtornos psiquiátricos, certamente portava as armas de forma ilegal, não cabendo o argumento de que a liberação do porte de armas aumentará a ocorrência de tragédias semelhantes.
Para portar arma, o cidadão terá de se submeter a testes psicológicos, o que excluiria transtornados como o que agiu em Campinas.
No Rio de Janeiro, um empresário escapou da morte porque estava armado e atirou nos bandidos, deixando um criminoso estendido no chão e ganhando tempo para fugir.
Se porte de armas fosse sinônimo de aumento de mortandade entre a população, o Brasil não registraria 27,1 homicídios para cada 100 mil habitantes, enquanto nos Estados Unidos ocorrem 4,7.
Na pequenina Islândia, com 300 mil habitantes, existem 90 mil armas de fogo e quase nenhuma morte. Lá, só se morre de velho ou de vício.
*Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor.