Enquanto apologistas da Rússia e dos Estados Unidos comemoram os feitos de cada um na Síria, as pessoas mortas, homens, mulheres e crianças, não passam de um detalhe. Segundo estimativas do Centro Sírio de Pesquisas Políticas (SCPR, na sigla em inglês), 470 mil pessoas já morreram desde o início da guerra civil síria, em 2011. Hoje, mais de 13,1 milhões de sírios precisam de ajuda humanitária.
Apoiada pela Rússia e pelo Irã, a ditadura de Bashar al-Assad, que havia sucedido seu pai, Hafez, em 2000, é acusada pelos opositores de corrupção desenfreada, falta de liberdade política e repressão.
Os opositores, por sua vez, sob o comando do Estado Islâmico, enquanto reclamavam de falta de liberdade, retiravam a liberdade por onde passavam, degolando cristãos, oprimindo mulheres e destruindo monumentos milenares.
Os Estados Unidos chegaram a apoiar o regime na luta contra os extremistas islâmicos, mas se voltaram com Al-Assad após as notícias de que o governo usou armas químicas contra pessoas inocentes, a pretexto de combater os rebeldes.
O conflito envolve também interesses étnicos, como o dos curdos, que há anos lutam para definir um território entre a Turquia e a Síria com o nome de Curdistão, movimento duramente reprimido pelo governo turco, outra ditadura que oprime e mata opositores, demite e prende juízes, religiosos, intelectuais e quem ouse se erguer contra os tiranos de plantão.
Enquanto brincam de Deus, as superpotências e os corruptos locais não sentem o menor remorso pelos anjos que as armas químicas, biológicas e convencionais mandam para o Céu, e não se importam o que dirão depois Jesus, Maomé e Jeová.
*Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor.