O ser humano se ilude para ter esperança. Na maioria das vezes, sobrevém a desilusão, o desencanto, a depressão. Na política, as consequências e os efeitos são desastrosos. Milhões ficam submetidos a meia-dúzia por décadas, apegando-se a uma fantasia, até que sejam consumidos pela tirania.
Na União Soviética, os bolcheviques decidiram que o povo não tinha discernimento para guiar seu próprio destino e resolveram fazer o que achavam certo para a vida de milhões. Quando as coisas deram errado, passaram a tomar a terra e a colheita, matando de fome, aos montes, homens, mulheres e crianças, todos enterrados em valas comuns.
Mesmo morrendo, as pessoas imploravam para que alguém avisasse a Stálin sobre o que estava acontecendo, porque ele, certamente, não sabia de nada.
O fenômeno se repetiu na China, no Camboja, no Vietnã, na Romênia, Alemanha Oriental e demais países da Cortina de Ferro, sem contar Albânia e Cuba.
Quando se dão conta e não veem saída, as pessoas começam a exercer a ética da insinceridade, a fingir que aceitam tudo, mas aí já o fazem por conveniência ou medo.
No Brasil, um segmento político-ideológico finge que a tragédia que se abateu sobre sua liderança não passa de uma perseguição injusta de forças dominantes, como se eles não tivessem dominado tudo durante anos. Cinco ex-presidentes latino-americanos foram presos em decorrência de envolvimento com esquemas corruptos da Odebrecht, mas somente o brasileiro é o perseguido.
Para nublar a desmoralização de uma prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, parlamentares do partido passam a adotar o nome do preso, acrescentando Lula ao nome. Fazem como a música de Tiririca, ele é tudo isso, mas é meu amigo.
Espalham a ilusão de um herói injustiçado, para evitar que todos o vejam como um Macunaíma, e fingirão sofrimento para tirar proveito da fama que ainda lhe resta.
*Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor.