A empresa de transportes Uber aposta em uma série de iniciativas de curto e longo prazo para resolver um problemão: um prejuízo de 5 bilhões de dólares. A mais nova iniciativa, conforme anunciado nesta segunda-feira, chega em novembro ao Brasil.
Batizada de “Comfort”, a nova modalidade permite que o passageiro solicite carros espaçosos, coloque a temperatura do ar-condicionado ao seu gosto e até peça para o motorista conversar ou ficar em silêncio. Ou seja: tudo que a empresa sempre disse oferecer, mas desta vez cobrando um pouco a mais. A opção será mais cara que o tradicional UberX, serviço mais popular do Uber.
Para garantir o “conforto”, a empresa só permitirá carros mais novos e motoristas com avaliação média mínima — numa média que pode variar de cidade para cidade. É uma nova tentativa de a empresa, que tem 600.000 motoristas e 22 milhões de passageiros no Brasil, seu segundo maior mercado, impulsionar seus resultados. No mundo, a companhia anunciou em julho ter rompido pela primeira vez a marca de 100 milhões de passageiros.
Após abrir o capital, em maio, a companhia passou a ser escrutinada por investidores, e está em busca de alternativas que, pelo menos, indiquem a redução dos prejuízos no médio prazo. Um problema pode ser a timidez das novas ofertas. Nesta segunda-feira a companhia inaugurou em Nova York um serviço de helicóptero para o aeroporto JFK por cerca de 200 dólares.
Como falta de ambição não é problema para a companhia, a Uber anunciou que os helicópteros são a fase inicial de um projeto de “táxi voador”, com veículos elétricos que realizam pousos e decolares verticais, que pode chegar a cidades americanas em 2023. A fabricante brasileira de aviões Embraer é uma das parceiras da iniciativa.
Na sexta-feira passada a Uber já havia anunciado em Chicago a primeira versão do app Uber Works, que mostra aos usuários os turnos disponíveis e ajuda empresas em horários de picos de demanda. A ideia é conectar, por exemplo, um cozinheiro com um restaurante em dias de grande movimento.
Em cidades com grande movimentação de entregas, outro serviço da Uber, o Eats, tem potencial maior que o próprio serviço de transporte de passageiros. O número de clientes do serviço cresceu 140% globalmente, segundo anúncio trimestral feito em julho. Outras apostas incluem bicicletas elétricas e carros autônomos, negócios com enorme potencial de futuro, mas ainda com pouca viabilidade comercial no presente.
A busca por novos negócios é essencial não só para seguir impulsionando as receitas e reduzindo as perdas, mas também para suplantar problemas regulatórios crescentes. Em setembro, a Uber perdeu uma queda de braço na Califórnia, quando o estado sancionou uma lei que classifica os motoristas como funcionários.
Desde que abriu capital em Nova York, em maio, a Uber perdeu 27% de seu valor de mercado e hoje vale cerca de 50 bilhões de dólares na bolsa. Suas dificuldades são acompanhadas de perto por investidores por servirem também de teste para a ambição de outras companhias ambiciosas mas com grandes perdas no curto prazo, como a empresa de escritórios WeWork. A WeWork sequer deve conseguir ir à bolsa. A Uber foi, e agora precisa melhorar seus balanços — nem que seja com silêncio.